domingo, 31 de janeiro de 2010

Projeto: Língua Portuguesa


LÍNGUA PORTUGUESA


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

(Olavo Bilac)

Língua Portuguesa - Projeto


Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.

Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. "Fabricou Salomão um palácio..." E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa . Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

("Livro do Desassossego", por Bernardo Soares, heterônimo. Vol. I, Fernando Pessoa)

Projeto: Língua Portuguesa

"A Descoberta do Mundo"

Clarice Lispector

Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.

Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.

Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.

Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

(fonte: http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20000413.htm)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Soneto à Língua Portuguesa



Havia luz pela amplidão suspensa
no azul do céu, vergéis e coqueirais...
e o Lácio, com fulgores divinais,
abrigava de uma virgem a presença...

Era um castelo de ouro, amor e crença,
que igual não houve, nem haverá jamais...
Onde os poetas encontraram ideais
na poesia nova, n'alegria imensa...

A virgem era a Língua portuguesa,
a mais formosa e divinal princesa,
vivendo nos vergéis de suave aroma!

Donzela meiga que, deixando o Lácio,
abandona os umbrais do seu palácio,
para ser de um povo o glorioso idioma!...

(Publicado no Livro Gota de Orvalho, de Waldin de Lima, poeta gaúcho, no ano de 1989)

O Som é Sagrado
























..."Havia na Índia, um certo professor que tinha aproximadamente dez alunos, e sempre procurava ensinar coisas boas e construtivas a esses alunos, procurando-lhes reforçar o caráter.

A esse ashram (comunidade espiritual) chegou uma pessoa que tinha certa posição e poder. Como o professor estava no meio de uma aula, não foi até a porta receber aquele homem para dar-lhe as boas vindas e o visitante, devido à sua posição e autoridade, sentindo-se um tanto ofendido, entrou na sala e perguntou ao professor:

- Por que você não se importou com a minha chegada? O que está fazendo que não veio me receber?

O professor respondeu:

- No momento estou cumprindo meu dever para com as crianças, ensinando-lhes boas coisas.

O visitante retrucou:

- Só porque você as está ensinando a respeito do bem, acha que seus corações mudarão e se tornarão mais puros?

O professor tomou então, mais coragem e falou:

- Sim, é claro; é bem possível que seus corações se transformem através de minhas lições.

O intruso disse:

- Não, não posso acreditar.

Ao que o mestre retrucou:

- Quando você não pode acreditar, quer apenas dizer que, você não tem fé em tal coisa, o que não significa que isto seja razão suficiente para que eu deixe de ensinar boas coisas a essas crianças.

Com isto, a pessoa, que se sentia muito importante, começou a discutir e afirmou que não é possível mudar a mente de ninguém, usando apenas palavras.

O professor, que era astuto e experiente nesses assuntos, pediu a um dos meninos, o mais franzino e menor de todos, que se levantasse e, na presença do visitante, disse ao garoto:


- Vamos, meu caro menino! Pegue esse homem pelo pescoço e ponha-o porta afora!

Imediatamente o visitante, ao ouvir isso, tornou-se furioso, seus olhos ficaram vermelhos de tamanha raiva e quis bater no professor. Então o professor perguntou:

- Senhor, qual é a razão de sua raiva? Nós não lhe batemos, nem tampouco lhe botamos para fora: a única razão para tê-lo enfurecido assim, foram as palavras que pronunciei a este menino, que nem tem condições físicas para fazer o que pedi a ele. Você disse que não crê que meras palavras possam mudar a mente de uma pessoa. Qual a razão então, das simples palavras pronunciadas a esse pequeno jovem, terem mudado tanto a sua mente, a ponto de tê-lo irritado tanto? Portanto, é errônea sua afirmação de que com simples palavras não se pode mudar a mente. Com palavras se pode causar raiva ou afeição. Com simples palavras pode-se ganhar a graça de qualquer um”

Chinna Katha – Sathya Sai Baba

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

CONVITE



♥♥♥ Meus amores!
O nosso cálido e aconchegante Empório do Café Literário já reabriu suas portas para o ano abençoado de 2010, com todo requinte que lhe é conferido pelas suas idealizadoras e fundadoras Lu Cavichiolli e Rose Carrara.

Como colaboradora assídua desse cheiroso e saboroso Café, convido a todos os meus seguidores dos Botões de Madrepérola para uma passadinha por lá... escolher seu cantinho preferido... puxar uma cadeira... sentar-se confortavelmente, e escolher as iguarias da casa que mais lhe apetecer e aguçar os sentidos do olhar e do paladar... enquanto nos dá o prazer de um agradável bate-papo com a gente!
Dentre os amigos que colaboram, figuram Cezarina Caruso, Ana Lúcia Porto, Chica, Dulce, Volmar (da Revista Samizdat), todos com seus respectivos blogs particulares, entre outras feras da literatura e da nossa poesia.

Se quiser participar também, não faça cerimônia: está convidado (a)!

Temos a Vitrine Literária às terças...
O mural do Escritor às sextas...

Interação, curiosidades de nossa Língua Portuguesa, aprendizado, trocas de incríveis experiências e muito mais. Confiram!
Sejam totalmente bem-vindos!!!

Bom Apetite!
Bons versos!
Excelentes leituras!




***Vejam o que disse dele nossa querida e doce colaboradora Dulce Costa:

"Boa prosa saboreando um cafezinho...

Um cheirinho bom de café pela blogosfera anuncia que o "Empório do Café Literário" reabre suas portas, após as férias, para mais uma temporada literária. E esse cheirinho bom anuncia, pois, a volta de boa prosa, boa literatura e muito bate-papo em boa companhia.
Recomendo uma visita para um cafezinho bem tirado e dois dedinhos de prosa com a Lu e a Rosemari, com a certeza de lá encontrarem vários(as) outros(as) colaboradores(as) de peso como, por exemplo, a Graça Lacerda e a Chica, que vão adorar a sua visita."

Série Biblioteca – V (curiosidades)




Biblioteca Pública
de Kansas City




Como curiosidade, a Biblioteca Pública de Kansas City, fica no Estado do Missouri e não no Estado do Kansas, conforme se pensa.
As lombadas dos livros que decoram a fachada do parque de estacionamento medem aproximadamente 7,5m de altura por 2, 70 de largura e formam uma estante de livros, deveras original. A estante gigante mostra 22 títulos de livros das mais variadas áreas e que refletem os interesses de leitura dos habitantes da cidade. Esta biblioteca foi fundada em 1873, possui uma vasta coleção de livros da história, incluindo materiais originais, postais, fotografias e mapas.

Muito linda, não? Diferente...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010



CONTO: UM BREVE DESPERTAR


PARTICIPANTES:

LU CAVICHIOLLI, CEZARINA CARUSO, GRAÇA LACERDA, DULCE COSTA E SU ANGELOTE


Estávamos no outono e o frio costumava ser meu companheiro na solidão.
Naquela manhã estava nevando um pouco quando abri a janela num rompante agitado porque o cortador de lenha já estava em frente à cabana empilhando as toras .
Meu pai já estava na cozinha preparando nosso desjejum, então me apressei correndo para o banho tal era minha ansiedade em usar aqueles produtos que Jane trouxera ontem. Meus cabelos estavam desidratados e duros como palha de aço. Ela sempre dizia: “uma moça precisa estar bem cuidada, principalmente se estivesse em idade de casar”. – não era meu caso, embora eu já tivesse passado dos 25 , porém meu pai, meu cachorro e meus livros era tudo que eu precisava.

A banheira já estava espumando quando entrei. . Devo confessar que naquele instante senti uma leve necessidade em estar acompanhada, mas logo varri essa idéia da cabeça concentrando-me nos cremes e sabonetes que olhavam pra mim exalando seus perfumes.

Os latidos de Jimmy estavam insuportáveis, enquanto meu pai ralhava com ele, e tudo por conta do lenhador. Jimmy detestava lenhadores e suas tralhas.
Mais tarde, depois da caminhada eu voltaria para a máquina de escrever. Havia capítulos por terminar e minhas idéias estavam nubladas.


Vesti meu velho e maravilhoso casaco marrom e coloquei meu acetinado chapéu marrom, tudo combinando. Corri para a porta e desci rapidamente a escada que me levava à rua.
Papai havia comprado nossa casa com os sacrifícios diários de seu trabalho, e agora ela estava hipotecada, para nossa tristeza e desolação.
Vasculhei as lojas da cidade à procura de um presente para Jane, afinal ela era minha melhor amiga e me trouxera perfumes e produtos de beleza na véspera. Mas eu não podia retribuir à altura tamanha generosidade! Tudo o que eu podia oferecer-lhe era o que uns trocados podia comprar.
- Vinte dólares - disse a vendedora.
O vento frio e a neve entravam em meu espírito e me traziam doces e ternas recordações.
Emergida em meu transe, voltei para casa, onde um café estava sendo preparado e uma frigideira quente no fogão a lenha esperava o momento de fritar os ovos com bacon, minha refeição preferida.
Quando olhei o grande relógio de ouro da sala, vi que o tempo havia se arrastado e eu nem havia percebido!


Terminado o café, subi para a biblioteca na intenção de trabalhar nos capítulos que ainda faltavam. Meu editor estava intransigente, não abriria mão da data estipulada para a entrega dos originais do livro. Mas parecia que uma guerra estava se desenvolvendo entre meus personagens e eu, como se eles tivessem tomado vida própria, como se quisessem seguir seus próprios caminhos e não aquele que originalmente lhes fora traçado.
Mais de uma vez isso acontecera e no final eu sempre acabava deixando que eles fizessem suas escolhas, que eles encaminhassem a história. Confesso que nem sempre encontro coragem para enfrentamentos, nem mesmo com personagens criados por mim mesma. Mas desta vez não cederia.
Sentei-me diante da máquina, relendo os últimos parágrafos escritos, para poder bem retomar a história e, com um sorriso meio sarcástico no rosto, murmurei entre dentes: "Muito bem Dr. Hernandez, vamos ver se o senhor vai ou não vai àquele jantar..."


Ylana respirou fundo, decidindo dar um rumo a Hernandez antes que ele a transformasse em sua escrava. Sentou-se em frente a maquina de escrever, e sua memória voou ao passado:

Ylana era frágil e sensível, e tinha uma capacidade instigante para criar. Talvez por isso sua mente lhe pregava peças como naquele domingo, quando ainda tinha 18 anos e estava em férias na casa dos avós no litoral sul da cidade.

Ela molhava o jardim, na frente da casa, e estava metida num shortinho jeans com a barra em fiapos e uma regata azul bordada em miçangas que lhe conferia o aspecto de bonequinha de vitrine. Os cabelos de um louro acinzentado brincavam com a brisa que vinha do mar. Os pés estavam nus e experimentavam a liberdade juntamente com a água que escorria da mangueira. Estava tão entretida dentro da paisagem que nem percebeu que alguém se aproximava. Estava agachada arrancando algumas ervas-daninhas do canteiro quando sentiu um toque firme e extremamente inesperado. Num sobressalto levantou-se e viu a figura de um homem de meia idade que trazia já a prata do grisalho nos cabelos desalinhados . No rosto exibia um breve sorriso camuflado por óculos escuros e a boca fazia prenúncios de fala, valorizando a barba cerrada ainda acastanhada.

_Boa tarde senhorita, seu avô está?

Meio sem fôlego e ainda caguejando, Ylana se recompôs dizendo:

_A quem devo anunciar, senhor?

_ Dr.Hernandez, a seu dispor.

E antes mesmo que eu pudesse dizer: - não se encontra, ouvimos todos, estarrecidos, um grande grito, que abalou a casa toda.
- Corram!


Com lágrimas a lhe escorrer pelo rosto Ylana retornava ao presente fazendo um esforço enorme para continuar a escrever e também disfaçar sua tristeza para que seu pai não percebesse.

Entrementes a moça cogitava um pensamento:
"... Se não fosse Hernandez naquele dia, nem sei o que seria de mim."


Lembrava-se claramente dos momentos terríveis por que passara naquele dia. Ao ouvirem o grito, ela e o Dr, Hernandez entreolharam-se aturdidos e sem que uma palavra fosse dita correram em direção à entrada da casa. Subiram os degraus em desabalada carreira e ao abrirem a porta deram com a empregada da casa segurando nos braços a velha senhora que, desfalecida, trazia no rosto uma palidez assustadora.
Sem uma palavra, o Dr. Hernandez tirou-a dos braços da moça colocando-a sobre o chão de mármore do vestíbulo, começando ali mesmo a aplicar os primeiros socorros enquanto Ilana, chorando, dirigia-se ao telefone para, obedecendo a uma ordem dada pelo médico, chamar uma ambulância.


A moça lembrava ainda do dia seguinte...Uma garoa fina descia do céu como uma esgarçada gaze cinzenta,deixando as cores da paisagem,esmaecidas.O lento passar das horas naquele corredor imenso,em sua alva brancura resplandecente e imutável,que divisava da sala onde estava, apertava seu coração...No fim do corredor,sobre uma estreita janela,um relógio marcava,implacavelmente o tempo. O hospital onde estava sua avó era um prédio moderno e frio,bem equipado e famoso por seus profissionais...Mas,sentada na sala de espera a moça perdia-se na contemplação muda das pessoas que transitavam ali,entrando ou saindo pela grande e envidraçada porta giratória,que qual boca gigantesca,despejava pessoas desconhecidas...Era multidão,mas Ylana sentia-se desesperadamente só.

Não era fácil para Ylana pensar que poderia vir a perder a sua avó. Lembrou-se do dia em que se encontrara naquele mesmo hospital, esperando no colo de seu pai por notícias de sua mãe que estava na sala de cirurgia.
Ylana perdera sua mãe antes de completar oito anos. Um câncer generalizado em seus órgãos pos fim a sua jornada terrestre aos 38 anos de idade. Lágrimas escorriam da fase de Ylana. Pensou em seu pai, que nunca conseguira refazer sua vida amorosa. Lembrou-se da sua infância solitária e dos poucos amigos. Quando seu pai precisava viajar deixava-a sob as guardas de seus avós.
Ylana despertou de seus pensamentos e voltou para a realidade. Precisava dar um destino para o personagem Hernandez. Quantos livros escrevera desde que descobrira o seu dom? Ela sabia que seu personagem tinha vida própria. Se ela fosse verificar seus outros trabalhos, certamente encontraria “Hernandez” com outros nomes e outras funções. Ylana sabia o que tinha acontecido naquela tarde quando o conhecera. Ela tinha apenas dezoito anos, mas apaixonara-se ao ponto de nunca mais conseguir olhar para outro homem.
Uma brisa entrou pela janela deixando o perfume de seu corpo no ar. Uma sensação de prazer passou por si e ela imaginou o seu personagem como alguém que desejava amar. Entregar-se. Desejou naquele momento não só o personagem, como o homem que batera a porta de sua avó naquela tarde.
O telefone tocou e Ylana despertou de seus pensamentos.


Com os olhos revirados e a boca retorcida, Ylana disse um alô enjoado pois do outro lado era Garcia, seu edtor.

Enquanto escutava o lenga lenga insistente sobre a capa ,orelhas e contracapa de seu livro, a moça fitava a branca paisagemm que rodeava seu chalé, deixando sua mente voar naquele céu nostálgico em prenúncios de fim de tarde.

Garcia tagarelava adjetivos e preposições num emaranhado de perguntas até que Ylana o interrompeu:

_Ok Garcia, já falamos sobre tudo isso. Na verdade, acho um pouco cedo para a escolha da capa. O texto de contracapa, já está finalizado e tem uma íntima ligação com a imagem da capa. Portanto ainda estou estudando. Dizendo isso,desconversou, despachando o editor.

Quando ia virar-se na cadeira para chamar seu pai, deparou-se com ele segurando uma bandeja de inox com toalha em macramê rosada e sobre ela um suco e duas fatias de pão com geléia e pasta de amendoim.

Ylana sorriu agradecida, pronunciando o queixo e beijando a face de seu velho e querido pai.


Naquela noite,Ylana escreveu até muito tarde...Sua mente fértil criava sem parar! Foi deitar-se quando as estrelas se desvaneciam e a madrugada debruçava-se sonolenta sobre os primeiros e tímidos clarões de um novo dia.Tomavam o café sentados em torno da mesa redonda da cozinha,os dois,Ylana e seu pai,enquanto Thor,seu gato de estimação dormia sob a janela...O sol punha chispas de luz nos objetos e,na toalha axadrezada da mesinha gotejava pingos de um amarelo vibrante.O retinir áspero da campainha da entrada veio quebrar a paz do momento,como uma pedra atirada num lago parado e silencioso..."Quem será?"murmura Ylana surpresa,arredando a cadeira e levantando-se....

O carteiro segurava um envelope cheio de selos coloridos e o entregou a Ylana,sorridente."Bom dia,menina!"Ele a conhecia desde criança...Despedindo-se entre sorrisos o velho carteiro se foi pela estradinha sinuosa de terra vermelha,debruada por uma verdejante cerca viva,montado em sua bicicleta .
A moça olhou o envelope e divisando a letra conhecida estremeceu,como se um vento frio a percorresse toda!Uma letra bem feita sobressaía entre os selos comemorativos...Exma srta Ylana Vlasekh...e virando o envelope surgiu o nome do remetente! Seu coração disparou num assomo de emoção!Podia-se ouvir o arfar de sua respiração entrecortada: Dr.Hernandez Valenzuela y Herrera. "Meu Deus!Ele de novo...depois de tanto tempo sem dar notícias!" E as cenas de uma triste e emocionada despedida surgiram-lhe diante da memória...Uma cena acontecida há nove anos atrás! Uma cortina salgada de lágrimas embaciavam seus olhos quando,envelope ainda fechado nas mãos,entrou em casa...


Ao bater a porta cabisbaixa, logo percebeu o olhar do pai em sua direção.
Henry olhou para a filha , abaixou a cabeça, mordendo levemente os lábios indagando em seguida:

_ Carta daquele homem, filha?

Ylana, limitou-se a responder com um simples vai e vem do pescoço, enquanto as lágrimas rasgavam suas entranhas.

_Filha, espere. Olhe pra mim... Você precisa resolver esta situação. Estou velho, por vezes caducando e quando me for, você ...

Ylana interrompeu o pai bruscamente:
_ Pare com essa conversa, o senhor sabe que detesto ouvi-lo falar desse jeito.

Meneando a cabeça Henry afastou-se e seu íntimo lhe dizia que algo de novo estava para acontecer.


Sentada na poltrona vermelha de seu quarto,Ylana rasgou o envelope com dedos trêmulos.A bela letra graúda e elegante embaciava-se diante dos olhos da moça...Cenas do passado passavam como flashs diante dela. Com seus dezoito anos, em plena adolescência,apaixonada por um homem que tinha idade para ser seu pai!Um homem cujos cabelos grisalhos e olhar cansado roubara-lhe o coração cheio de sonhos inocentes...Ele que lhe prometera casamento e a enganara com suas promessas .

Era este homem que agora lhe escrevia solicitando-lhe o favor de receber e auxiliar seu único filho que vinha para a Universidade de Oxford fazer Mestrado em Fine Arts!O pai da moça era professor aposentado de História Antiga na referida Universidade e,os dois moravam numa antiga casa de campo nos arredores da cidade.O Dr Hernandez e Ylana sempre mantiveram uma aparência de amizade entre si e ninguém nunca suspeitara de que tivessem tido um caso tórrido de amor.Sómente o velho professor Henry sabia da história porque a filha lhe confidenciara...E só a ele Ylana revelara seus segredos que entretanto,voltavam agora das brumas do passado para atormentá-la.
Juan Miguel Herrera desceu do avião e atravessou a enorme passarela em direção às dependências modernas do aeroporto.Teve que aguardar meia hora pelas suas bagagens. Quem o visse naqueles momentos em sua aparente calma,não suspeitaria do fogo oculto em seu coração, de seu caráter apaixonado,da sua perseverança quando desejava obter alguma coisa, enfim de sua alma cigana.

Juan exibia uma personalidade de traços fortes,resultado do sangue espanhol de seu pai e, principalmente do sangue Kalon, de sua mãe que pertencia a um Clã cigano da Península Ibérica.

Momentos depois já de posse de suas bagagens,duas malas de couro negro e macio, parado à beira da calçada,esperava numa longa fila o táxi que o levaria ao hotel.

Tinha uma bela e elegante aparência aquele jovem de 3o anos:cabelos semi-longos de um negro luzidio e profundo,emoldurando um rosto anguloso,cujo queixo quadrado evidenciava ainda mais os traços gitanos...Os olhos,de um verde transparente,como duas líquidas esmeraldas,tinham um jeito penetrante,misterioso de olhar as pessoas...Ele as mirava direto,fixamente,como se entrasse em suas almas,descobrindo segredos.Um olhar de lobo.

O nariz reto, de narinas arfantes e belas,realçava uma boca larga de lábios decididamente firmes e sensuais...A sombra de uma barba escura, evidenciava o semblante másculo e atraente. Mas o que chamava atenção eram os cílios escuros e longos em contraste com o olhar claro e magnético! Uma figura apaixonante.

Mas havia algo nele,em todo esse conjunto de eletrizante beleza,que o tornava ainda mais enigmático:um certo quê de revolta contida...um ar de felino espreitando na sombras pronto para saltar sobre a presa. Uma inquietante sensação de incerteza das suas reações no instante seguinte.
Que segredos estavam escondidos naquela alma indevassável e inquieta?

Ylana aguardava,sentada a uma mesa, num canto resguardado por um biombo chinês,cujas pinturas delicadas em cada um dos quatro painéis de papel de arroz traziam recordações da China Imperial,naquele restaurante em estilo vitoriano.

O filho de Hernandez lhe telefonara na noite de sua chegada e haviam combinado encontrar-se naquele lugar para unir um jantar agradável a uma conversa necessária. No aconchegante salão haviam oito mesas de quatro cadeiras, cada uma recoberta por alvas toalhas de cetim adamascado. Ao centro das mesas um pequeno abajur de bronze dourado com cúpula de vidro fosco, estilo Art Nouveau,que lembravam flores róseas.

Ylana tentava disfarçar sua impaciência,mas evidenciava sua inquietação nas mãos que retorciam um guardanapo à sua frente. O grande relógio marcava 20.35hs quando o rapaz chegou ao restaurante quase cheio.

Ylana sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha. Suas mãos suavam,nervosas.
Os olhos verdes a miravam diretamente. A boca sorria mostrando uma fileira de dentes perfeitos. Mãos morenas apertaram as suas,quentes e macias.

O homem puxou a cadeira à sua frente e sentou-se. Tudo nele exalava uma aura de elegância e finesse. Entretanto a moça teve a súbita sensação de estar à espreita,numa situação de presa sendo cobiçada por um felino ágil...Que estranha sensação seria essa?

O sorriso quase brando, porém enigmático, daquele homem sentado ao seu lado, com o olhar altivo e cheio de mistérios, fez com que ela não sentisse absolutamente nada agora, além do imprescindível.Fixava, com atenção incessante, os olhos dele, e aplicou um esforço sublime para acompanhar os pensamentos daquele homem elegante e fino.

- Não posso fugir - pensou.
E, antes que pudesse levantar novamente os olhos para mirar outra vez os dele, veio a inevitável pergunta, que a assustou por um segundo:
- Por que foges, não de mim, mas de ti mesma?

Ylana quase desfalece, enquanto ele continua a observá-la, atento. Porém, sente-se desta vez perturbadoramente lisonjeada e cruza suas pernas, gentis e perfeitas, numa proposital languidez.

Aquela expectativa a incomodava, sem dúvida. Nenhum sinal claro de que tudo não passava de um enorme pesadelo, e que, por fim, sua presença ali não seria de todo inútil.
Receava, isso sim, que todos os segredos fossem impiedosamente desvendados, porém sentia-se estranhamente confortável.


Meu pai lhe manda um abraço srta"... Entre uma garfada e outra e um gole de vinho cor de âmbar,Ylana e Juan iniciaram uma conversa superficial, mas politicamente correta.

Pairava no ar,entre os dois um clima de tensa expectativa. Os olhos de Juan Miguel,magnéticos,atraiam o olhar da moça e a faziam tensa. Porém,lentamente foi sentindo-se melhor,mais a vontade. Talvez por efeito do vinho,relaxar as defesas e logo a conversa tornou-se mais amena e gentil.

O restaurante oferecia música ambiente e o casal escolheu uma mesa de canto, aconchegada por uma arandela triangular de um vidro fôsco lapidada com segmentos florais. A intensidade da luz era controlada ao lado, na parede, oferecendo um ambiente mais acolhedor.

Lá fora uma chuva que prometia ser impiedosa castigava a janela central, enquanto o vinho, elegantemente descansava na taça.

Ylana fitava o rapaz admirando a beleza marcante de seus traços e o estranho poder de sedução que dele transpirava. Fosse nos olhos, na pele, no hálito... Até que pigarreando quebrou-se o gelo:

_ Mas Sr. Juan, o que de tão importante o trouxe repentinamente até nós?
Seu olhar de esmeraldas alagou o rosto da moça de tal forma que ela viu-se envolvida por um nevoeiro de sensações que a faziam sentir-se em suspensão quando ele disse:

__ É verdade, senhorita! Ms vamos deixar de lado as formalidades, peço que me chame apenas de Juan. E eu gostaria de abolir o "senhorita", ME PERMITE?
__ Certamente Juan, vamos abaixar a guarda.

Com um sorriso maroto, Juan assentiu com a cabeça e prosseguiu:

__Soube da hipoteca de seu chalé e meu pai enviou-me para saldar a dívida e fazer-lhes uma proposta. Queremos comprar o imóvel.

Ylana gelou e suas pernas ficaram sem forças.Suas pupilas dilataram-se e sua boca ressecou rapidamente. Seus lábios entreabriram-se na tentativa de algo exprimir, mas preferiu tomar um generoso gole de vinho,recompondo-se na cadeira.

-A propósito Juan, o que mais seu pai lhe contou?

Saboreando o último pedaço de um suculento bife, o rapaz elegantemente, limpou o canto da boca, colocando em seguida o guardanapo sobre o colo e o cotovelo sobre a mesa, inclinando-se mais perto de Ylana dizendo:

__Curioso, mas eu sinto que há um certo mistério que a envolve ao passado de meu pai... Desculpe a ousadia ,mas estou certo?
__Você é muito inteligente e ardiloso meu caro, e não dá ponto sem nó. Creio que eu lhe fiz uma pergunta primeiro ou não?

Juan a olhou fixamente e de sua boca transpiravam rosas que abriu-se nu sorriso cálido e convidativo.
__Claro que sim, e te respondo. Meu pai não fala além do que lhe é conveniente. O velho é impertinente e ultimamente vem se mostrando uma pessoa de difícil convivência...

Talvez pela atmosfera mágica daquele lugar aconchegante,pelo ruído da chuva que caia agora mais fraca,lá fora,pelo vinho que já haviam tomado quase todo,fosse pelo que fosse,os dois deixavam-se atrair...Aquela sensação prazerosa,sensual que sempre flui entre homem e mulher em plena força de sua mocidade,acontecia agora,quase palpável,forte,entre Ylana e Juan.

As mãos que se seguravam sobre a mesa,o afago doce daqueles dedos longos e morenos,o olhar profundo e verde do jovem faziam arder a pele clara de Ylana...Mil sensações despertadas faziam a moça sentir um desejo louco e arrebatador por aquele homem atraente que trazia consigo a sensualidade e o mistério dos Filhos do Vento,do Povo dos caminhos...Contou-lhe sobre o passado...sobre sua paixão por Hernandez...Enquanto ouvia,Juan mantinha o olhar semicerrado,como se vislumbrasse as cenas.

Aos poucos iam se tornando mais próximos,mais íntimos. A moça,pela solidão amorosa em que vivia,permitia-se mergulhar naquela maravilhosa sensação de estar sendo desejada e querida.O rapaz,atraído pela beleza e sensualidade da jovem mulher,pelo calor que dela emanava,cumpria com prazer redobrado aquilo que a Natureza espera sempre de um homem:a conquista da fêmea.

Na penumbra que os rodeava, escondidos de todos os olhares pelo vidro fosco do biombo chinês,seus lábios se procuraram àvidos,selando com um beijo um pacto amoroso.

Na penumbrosa luz de seu quarto solitário jazia a escritora.
Sentada à escrivaninha de mogno escuro,debruçada sobre os papéis onde digitara o ultimo capítulo de seu romance,adormecera...
A bela cabeça loura,as faces levemente rosadas,Ylana dormia à sono solto,vencida pelo cansaço.Pela janela aberta entrava a brisa da noite,perfumada e fresca,trazendo consigo os sons misteriosos da escuridão.

"Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.... " ***


***(Poesia de Juan Jamón Jiménes:Eu não voltarei.)
FIM
♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

*Nota: esse conto escrito a várias mãos foi publicado no nosso Empório do Café Literário:

Sugestão de leitura

Amigos!

Uma linda obra de meu amigo André Esteves, que vocês vão amar, assim como eu.

"Voltando a voar conta a história de Sérgio, piloto aposentado da Aeronáutica, que, preso numa cadeira de rodas, desenganado pelos médicos, viúvo e de relações cortadas com seu único filho, se vê obrigado a internar-se numa casa gerontológica, à espera da morte.

Lá ele conhece pessoas que irão mudar totalmente seu modo de ver a vida: Ivan, anarquista incorrigível, Érika, a graciosa senhora que faz seu coração barter mais forte outra vez, e Roberto, o misterioso enfermeiro que parece ter dons especiais.

Voltando a Voar não é apenas uma fábula emocionante, é uma verdadeira lição de vida. Os fãs de Andre Esteves serão agradavelmente surpreendidos por uma história que foge totalmente aos seus padrões, mas que, inegavelmente, cativa o leitor desde a primeira página.

* sinopse por Frodo Oliveira."


(Editora Multifoco)


Boa leitura!!!


http://www.esquinadoescritor.com.br/livro%20voltando%20a%20voar.html

domingo, 24 de janeiro de 2010

Presentes são sempre bem-vindos!!!


Querida amiga!
temos um excelente escritor e poeta aqui no Brasil, falecido recentemente. Meu amigo e conterrâneo, saudoso Elias José, que aceitou gentilmente meu convite para inaugurar nossa Biblioteca Escolar, em homenagem a ele. Preparamo-lhe um delicioso e requintado Café da Manhã, com recitais, interpretações e encenações de seus poemas, entre outras atividades teatrais, de calorosa acolhida a essa pesoa generosa e sábia!
Autor de "Uma Escola Assim eu quero pra mim".
Seu presente fez-me recordar o Elias, o momento exato da inauguração, quando o poeta cortou o laço verde (lindo!) que preparei para a fachada da Biblioteca...
Foi simplesmente emocionante, amiga!
As fotos são analogicamente de máquinas comuns, mas eu ainda as guardo com muito carinho...
Bjssss desde Brasil.
Um dia ainda conhecerei Lisboa, aquele lugarzinho dos meus sonhos, uma igrejinha no campo... florido e cheinho de Paz!
Obrigada por tudo. Deus compreendeu minha angústia de hoje, por essa razão enviou um anjo de nome Cristi@ne!!!
Eu te amo muito, Cris!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Série Biblioteca – IV (curiosidades)

1.A palavra bíblia vem do grego biblós que significa “os livros” ou “coleção de livros”, os quais na Antiguidade eram artigo de luxo.
As bibliotecas são anteriores à Imprensa: elas já existiam no antigo Oriente e possuíam caráter mais ou menos religioso. Eram instaladas nostemplos, em forma de rolos (os manuscritos).

2.Palimpsesto, Manuscrito e Pergaminho



Palimpsesto é uma página manuscrita, pergaminho ou livro cujo conteúdo foi apagado mediante lavagem ou raspagem e escrito novamente, reutilizado. O termo vem do grego antigo e significa riscar de novo.

A palavra manuscrito significa escrito à mão e é possível que tenha surgido para diferenciar os textos escritos com tinta e pena, sobre pergaminho, dos textos reproduzidos por tipografia.

Um texto manuscrito opõe-se a texto impresso, datilografado, digitado produzidos respectivamente por máquina impressora industrial ou doméstica, de datilografia ou armazenado em meio digital.

Há quem chame de manuscrito ao texto original, que é a versão de um texto feita pelo autor, por oposição a texto revisado e texto editado, que são versões elaboradas por outros trabalhadores que não o autor.

3. Biblioteconomista

O biblioteconomista estuda Biblioteconomia, especializa-se em administração de bibliotecas, e suas funções são, dentre outras, a de organizar coleções de documentos de vários tipos, como livros, periódicos, discos, fitas de vídeo, mapas, com a finalidade de facilitar o acesso a todo esse material do acervo de uma biblioteca.

Há ainda sob sua imcumbência, a Catalogação e a Classificação dos livros, orientação ao usuário sobre suas pesquisas, possuindo uma outra função também muito importante, a de documentalista: análise e resumo de documentos, utilizando-se de recursos da automação – computadores, fitas vídeo, microfilmadoras, etc, para uma posterior divulgação, mais ampla e precisa, de asuntos específicos. Exemplificando: eu tomo um volume da Barsa, mais um periódico, um Livro Didático, um Jornal impresso, e documento um tema único e específico existente em todos, com as devidas anotações de páginas, adendos, datas, modificações, alterações em dados, como é o caso de quantidade de livros de um acervo no ano tal, na Biblioteca Nacional.

4.A primeira Biblioteca do mundo

Segundo alguns historiadores, a primeira Biblioteca foi organizada em Mênfis, no Egito, pelo Rei Osimandias, em 2 000 a.C. Em sua entrada, havia os dizeres, em hebraico:

REMÉDIO DA ALMA

Na Grécia, a mais antiga, em Atenas, foi fundada por Pisístrato.

As mais célebres, foram as da Dinastia de Pérgamo , fundada por Atalo e fomentada por seu filho Eumenes II, com 200 000 volumes.

E a luxuosa Biblioteca de Alexandria, já postada aqui, anteriormente.

5.Iniciativa de se criar as Bibliotecas Públicas

César, o Imperador de Roma, foi o idealizador da ideia, e no século IV Roma possuía 28 bibliotecas públicas, com seus armários e estantes feitos em cedro, marfim e mármore, e trabalhados com soberbas incrustações em ouro.

6.Oração do Bibliotecário

Senhor, tu me deste o dom da paciência e,

mais do que ela, o de ouvidor;

de silenciar e de achar justificativas

para cada “típico” usuário da informação

que busca o meu auxílio.

Eu sou o elo entre a informação e a necessidade do usuário.

Eu sou o seletor dos documentos.

Eu sou o intérprete dos desejos alheios.

Faze, Senhor, que me policie diante da vontade

e o desnecessário, a fim de atender às pessoas.

Eu sou o protagonista de cenas isoladas e pesquisas exaustivas.

Faze, Senhor, com que eu possa ser assistido

pelas pessoas certas.

Senhor, permite que eu me mantenha fiel

ao compromisso de informar, indistintamente,

a todos que procurarem por uma informação.

Permite que eu não vacile diante dos trabalhos exaustivos.

Que eu não esmoreça diante das críticas.

Que eu não duvide da capacidade

de servir aos amantes da informação.

Permite que eu seja criativa (o) a cada novo sol,

E, quando dele me afastar,

Seja porque me aproximei de Ti para sempre.

Amém!

7.Ônibus-biblioteca

O projeto foi idealizado em 1938 por Mário de Andrade, chamado de “Biblioteca Circulante”. O serviço foi interrompido em 1942 na II Guerra Mundial, retornando em 1979 com uma perua Kombi adaptada. Desde então, apesar das dificuldades, o projeto sobrevive em São paulo.

8.Menor Bíblia do mundo

Todo mundo se refere a livros grandes como “bíblias”. Mas nem sempre uma Bíblia é sinônimo de livros gigantes. A menor bíblia do mundo está neste pontinho da foto abaixo.

Exatamente, este pontinho preto no meio do dedo do cientista na foto, ela mede 0,5 milímetro. Por mais estranho que pareça esta é uma placa de silício onde foi usado um raio focalizado de íons para gravar cerca de 300.000 palavras em hebraico da Bíblia.

A Nano Bíblia, como foi chamada é a menor do mundo e foi gravada numa plaquinha de silício tem meio milímetro quadrado e é recoberta com uma fina camada de ouro com 20 nanômetros de espessura. A façanha foi obtida pelos especialistas em nanotecnologia do Instituto de tecnologia de Haifa, em Israel. Só possível analisar o documento com uso de um microscópio.

9. Bíblia de Mogúncia

A Bíblia de Mogúncia foi impressa sobre pergaminho, cada página em duas colunas com 48 linhas, sendo as iniciais dos capítulos feitas à mão com tinta azul e vermelha.

Trata-se da primeira obra impressa na qual aparecem data, lugar e nomes dos impressores, Fust e Schoeffer (ex-sócios de Gutenberg), no colofão ( inscrição que pode estar no fim ou início do livro e que contém a informação sobre título, autor, editor, gráfico, tipografia, local e data de impressão, entre outros ...

É o incunábulo (livro impresso nos primeiros tempos da imprensa) mais antigo da Biblioteca Nacional, que possui dois exemplares, e faz parte das obras raras de nossa Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro!

Nota: a próxima postagem tratará dessa riqueza de Biblioteca...

(Vídeos, livros, filmes correlatos, por e-mail).