Palhaço, eu?
Arquibancadas e passarelas, tudo já desmontado.
Depois do Carnaval, a realidade.
A mágica foi desmanchada, as máscaras caíram.
Para ele, o Carnaval apenas emprestou toda essa força para manifestar seus
sonhos, contidos durante aquele ano inteiro.
Coincidência ou não, Pierre Peter teria que
realizar uma tarefa da escola, cursava segundo grau.
Tema: qualquer coisa que versasse sobre
Carnaval; e o jovem iniciou então sua pesquisa, livremente. E talvez porque
decidira brincar esse ano fantasiado de Pierrô, sentou e digitou:
“Pierrô – personagem criada na França... antes
Pedrolino”...
Pierre Peter via sempre seus sonhos serem
despertados em toda sua explosão, nos dias de Carnaval.
Mas para sua grande tristeza, mais uma
quarta-feira de cinzas havia chegado.
As luzes da cidade estavam-se apagando e ele
dormiu e sonhou... sob o disfarce do apaixonado Pierrô, e certo de seu grande
amor, vê sua Colombina à distância, e ela nem lhe dirige o olhar, tão dividida
estava entre seu amor e Arlequim. Ele sofre e lamenta, canta seu canto triste e
brejeiro, porém não ousa revelar-se. Seus lamentos não externados deixam-lhe a
certeza de que as máscaras são feitas, simples assim, para esse propósito.
Andarilho dos carnavais, Pierre Peter escondia a
tristeza do olhar. Buscava-a pelo iluminado e agitado salão, ávido de encontrar
sua musa, mas a solidão doía e apertava, em meio a todos aqueles confetes e
serpentinas.
O colorido do baile não preenchia a sua solidão.
A alegria e os trajes multicoloridos dos foliões pareciam zombar de sua dor.
Pierre Peter desperta e percebe mais uma vez
seus sonhos feito cinzas, junto com esse dia, na avenida deserta.
Luzes, festa, alegorias, tudo havia ficado para
trás, e soava agora em sua memória mais uma decepção:
- Quem sabe no ano que vem.
O encanto de mais um carnaval se esvai, e outra
vez, a desilusão de Pierre Peter, um estudante brasileiro, sim senhor. Mais uma
vez, venceu a ilusão de um colecionador de sonhos.
De volta a casa, senta-se e digita:
“Colombina, dama de companhia da corte, usa da
beleza e sedução para envolver e manipular Arlequim, acrobata e trapaceiro, e
Pierrô, o poético e romântico sonhador”.
- Sim:palhaço!
E desmancha-se
novamente em sonhos...
(Texto para Concurso do Empório do Café Literário)