sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

FELIZ OLHAR NOVO!

Meus  amados,


Desejo -  a todos vocês que me deram a honra e a alegria da sua preciosa amizade - que 2012 traga-lhes finalmente um novo "Amanhecer" e um glorioso despertar para a tão esperada e almejada Novidade de Vida, COM TODOS OS FOGOS DE ARTIFÍCIO DENTRO DE SEUS CORAÇÕES!
Que as responsabilidades sejam aumentadas, porém as alegrias multiplicadas! e QUE AS LUTAS CONTINUEM CHEGANDO, PORÉM AMPARADAS POR UM GESTO DE ORAÇÃO ELEVADO AOS CÉUS!!!
Muito grata a vocês pela agradável companhia durante o ano que passou!
Annum Faustum PARA TODOS!
Beij\O/

*Esse cartão é para vocês, podem levá-lo, se gostarem!




sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZ E VERDADEIRO NATAL!




Meus queridos amigos,

"Se tens amigos, busca-os: NATAL É ENCONTRO!
Se tens inimigos, reconcilia-te: NATAL É PAZ!
Se tens pobres ao teu redor, ajuda-os: NATAL É DOM!
Se tens soberba, sepulta-a: NATAL É HUMILDADE!
Se tens dívidas, paga-as: NATAL É JUSTIÇA!
Se tens pecado, converte-te: NATAL É GRAÇA!
Se tens trevas, acende o teu farol: NATAL É LUZ!
Se tens tristeza, reaviva a tua alegria: NATAL É GOZO!
Se estás no erro, reflete: NATAL É VERDADE!
Se tens ódio, esquece: NATAL É AMOR!"


Com esta mensagem, quero deixar meu Muito Obrigada a todos que me visitaram, por esses dias.
Um Natal muito Santo e alegre a todos vocês e aguardem que irei visitá-los!
Um grande e fraterno abraço!!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ainda Feliz Natal



Eu olho o traçado que a luz desenha no soalho, filtrada por um pingente que balança no falso pinheiro de Natal, e penso que Deus está mesmo nos detalhes, ou no retângulo que salta do piso como uma tela virtual, um abstracionismo que a refração da luz me oferece assim, inesperadamente, materializada no chão do escritório. Estou há não sei quanto tempo mergulhado na caverna virtual, em busca dos arquivos de Natal, à cata de um sentimento específico: o acordar na manhã do dia 25. Cedo. Muito cedo. Antes dos adultos. Descer as escadas e encontrar a imensa mesa, montada sobre cavaletes para acomodar toda a família, ainda posta, com as iguarias cobertas por guardanapos de papel. E os brinquedos ganhados na véspera a minha espera, ali, no pé da árvore. Rabanadas, ameixas e cerejas, que eram raras naqueles tempos em que se suspirava por uma calça Lee. Lembro-me especialmente dos olhos de uma prima que ganhou uma calça Lee, num daqueles Natais em família. Era a mesma que tinha a foto de Richard Chamberlain presa com durex no interior da porta do armário. 

Ela rasgou o papel enfeitado e olhou a calça com adoração. Esperava por ela havia muito tempo. Afinal, aquilo era artigo que só se encontrava nas importadoras. Eu também, entrando na adolescência, juntei dinheiro e fui à rua da Alfândega comprar meus jeans, que ficaram largos, porque insistiram que eu ia espichar e a calça não ia servir mais. Mas não fui o único, garanto. 

Estou fazendo uma varredura nesses arquivos e é impressionante como ali a juventude das primas manteve-se fresca, todas bronzeadas no fim de dezembro, trocando frascos de Gelatti, cada qual com sua cor favorita. Muitas primas, sempre. Marli, Marisa, Edilma, Edna, Edilza, Eliana, Eliete, Celi, Celma, Célia – escolhiam uma letra e, a partir dela, batizavam a prole. Enquanto isso, é claro, davam asas à imaginação. Era, também, nesses imensos encontros de família, quando se exagerava no vinho, que se diziam coisas e se criavam mágoas. E as mágoas cresciam e duravam todo o ano, até o próximo perdão natalino. Eu ia escutando histórias, ou fragmentos delas, e lembro claramente de olhar para os adultos como personagens. Um outro tipo de desenho animado, se me entendem. 

Ah! Acabo de encontrar um pedaço do plástico que era costurado para servir como toalha para a mesa da ceia. Nos arquivos, guardou-se o padrão: renas, trenós e guirlandas. O vermelho e o verde estão intactos. Ainda vibrantes, não desbotaram. Além dele, há uma infinidade de sons, cores e paladares que vamos guardando, não sabemos bem por quê, mas que agora, ao descobri-los – papéis de presente, doces cristalizados e canções –, percebo que se mantiveram ali para que eu ainda possa escrever uma crônica de Natal. E desejar os votos de costume, além de um abraço longo. Um abraço apertado. Fruto do amor que fomos plantando ao longo da vida. Um Feliz Natal aos leitores, portanto, ainda que apenas a ideia, a lembrança, guardada nos nossos arquivos, intacta, perfeita, incorruptível.
 (Miguel Falabella, ISTOÉ Independente)
*Miguel Falabella é ator, diretor, dramaturgo e autor de novelas

domingo, 4 de dezembro de 2011

Natal dos pobres


(img:alteredpagening)


Natal…
Está um dia fosco de neblina incerta e tristeza. Para
lá as árvores despidas não bolem. A vida parou. As
nuvens andam a esta hora a rastro pelas encostas
pedregosas dos montes. Não se ouve um grito. Tudo na
natureza se concentra e sonha. Há entanto um grande
rio envolto que nunca cessa de correr…
Longe pelos caminhos, através de pinheirais
cismáticos e calados, vão velhinhas tristes, de saia pelos
ombros, para consoar nessa noite com os filhos. Andam
trôpegas léguas e léguas. As suas mãos calosas, as caras
enrugadas, onde as lágrimas abriram sulcos, os olhos
tristes, contam o que elas têm passado na vida, dias sem
pão, suor de aflições, desamparos, maus tratos…
Os cavadores deixaram os arados mortos nos
campos, que a chuva alaga. Que tudo repouse. O
vinho de hoje conforta, como as lágrimas choradas
pelas nossas desgraças, o lume de hoje aquece como o
amor de nossas mães.
Nos soutos, sob a chuva que cai mansa e continua,
andam pobres que não têm lenha, a arrancar uma raiz
esquecida, para se aquecerem. Deus os tenha na sua mão
de pai. Partem, chegam, vêm muito longe, para verem
os seus meninos, matando saudades. Quase não comem
e sustentam filhos, sustentam netos. Os velhos, que tem
atrás de si uma vida de martírio e fomes, dizem:
– É hoje o maior dia do ano…
Na lareira arde um canhoto. Cai o nevão. A cozinha
é negra, de telha vá, é negro o frio, mas as almas
sentem-se agasalhadas. Por um buraco avistam-se as
estrelas e uma pedra serve de lar. Ao estalido das pinhas,
abafadas na cinza, repartem um pão que é o suor do seu
rosto, bebem o vinho aquecido em árvores que as suas
mãos cortaram…
Sentados ao lume não falam. As brasas vão-se
extinguindo como um poente, ou como uma alma que
vai deixar-nos. A Morte passa. No buraco do telhado a
estrela reluz, o nevão cai com um ruído das flores
desfolhadas, e cada um cisma em alguma coisa de
indeterminado e vago, de longínquo; em certa hora da
vida, na mãe, num filho ausente, naquela morta que
passou seus dias a sacrificar-se por nós…
– O lume apaga-se…
– Deitai-lhe canhotos.
O lume apaga-se e as sombras da noite, em revoadas,
vêm escutar-nos atentas.
Os pobres são como os rios. Estancam a sede da
terra, fazem inchar as raízes e crescer as árvores;
acarretam; moem o pão nos moinhos. Ei-la a vida da
terra. Todas as catedrais se construíram da sua dor; sem
eles a vida pararia.
Natal dos pobres! natal dos pobres!… Porque é que
criaturas misérrimas encontram ainda na sua gélida
nudez horas para recordar e amar? Pobres repartem o
seu pão; espezinhados dão-nos das suas lágrimas. Vinho
quente! vinho quente e amargo, que sabe a aflição!
Chegam-se uns aos outros para se aquecerem. Nas
enfermarias, nos sítios onde se sofre, os míseros e os
doentes quedam-se muito tempo a cismar. Os pobres
pensam que existem seres ainda mais pobres, lares
desamparados, onde nem o lume se acende; cuidam
numa velhinha, que, a essa mesma hora, cisma,
abandonada, e sozinha, ao pé de brasas extintas no filho
doente, no filho ausente… Há cabanas nuas, lares rotos,
almas mais gélidas que o nevão.
As lágrimas que se choram e se não vêem são as
melhores: caem sobre a alma.
Sofia sobe as escadas com uma caneca de vinho
quente, para repartir com o Gebo. Na sua fisionomia há
um cansaço enorme.
A chorar, misturando-lhe lágrimas, o velho, mais
gordo e todo branco, bebe o azedo vinho quente das
prostitutas. Depois abraçados soluçam na trapeira fria.
Fora não se ouve rumor: as coisas ingeridas escutam.
Põem-se a cismar na mãe que descansa na terra
encharcada. Tudo tão triste, dias sem pão, e o amor a
prendê-los, a uni-los, mais forte que a desgraça. Não
protestam, não têm forças para gritar. Baixinho o velho
Gebo e a filha choram aquela que a terra primeiro tragou.
– Se o Senhor também nos levasse…
E Sofia bebendo do mesmo copo:
– Tenha paciência, tenha paciência…
– Se o Senhor nos levasse juntos, na mesma hora…
Cuido que não tinha tanto frio.
– Aí tem pão.
– Sabes? Eu tenho medo de morrer. Se morresse
contigo, minha filha, não tinha tanto medo.
– A mãe lá nos espera. Na cova acabam-se as
precisões e as lágrimas…
– Tudo se acaba na cova. Chegada a nossa hora,
acaba-se também a desgraça.
– Aqui tem o vinho.
Natal dos pobres, noite de comunhão, noite de
lágrimas e saudades! Não é chuva que cai sem ruído,
são lágrimas. O Gebo abre a janela e põe-se a falar para
a escuridão com palavras que a noite escuta, com
palavras que a noite leva.
Em torno da mesa de pinho ceiam as mulheres.
Com os cotovelos fincados nas tábuas, olham o vinho
quente e cismam… Ceia de natal! Ceia de natal!… Até
as prostitutas se querem lembrar… Moídas de pancadas,
têm más palavras, gritos, e um sorriso humilde. Fazem-se
pequeninas para que lhes perdoem uma vida infame.
Falam! falam!… Parece que a mesma primavera
negra fez dar emoção a estas criaturas exploradas e
servidas. Lembram-se da sua vida, sempre lágrimas, risos
sem piedade… Uma começa:
– Ninguém canta?
E logo outra, como se as palavras lhe saíssem de
golfão:
– Eu cá foi por fome que me desfrutaram. Ninguém
queria saber de mim e a minha madrasta calcava-me aos
pés.
– Eu não sei como foi…
– E eu então – continua – foi por fome. O pai estava
escarangado e a minha madrasta era tão má, que, por eu
me demorar num recado, partiu-me um braço.
– Pois eu foi assim de repente… – diz outra.
– Ia pela rua fora. Vinha da fábrica, começou a
chover e uma lama!… Tinha frio e um homem pôs-se a
falar-me ao ouvido e a levar-me. Eu nem sei como aquilo
foi… E a falar, a falar, até me doía o coração! E nunca
mais o vi. Se o vir acho que nem o conheço.
– Enganam e nunca mais querem saber.
– A mim minha mãe bem me pregava mas a gente
que há-de fazer?
– Ontem os soldados puseram-me o corpo negro –
diz uma.
E mostra a triste carne magoada, os seios murchos
e com nódoas. No ombro os ossos furam-lhe a pele.
– Quando eu morrer… oh quando eu morrer!…
– Tola!
– Que tem? Tenho ali a roupa apartada.
– A mim, enganaram-me, levaram-me… Eu não
sabia nada. Depois comecei a servir. Enganavam-me e
punham-me fora… Depois não tinha mais para onde ir…
– Eu cá tive um filho…
Uma que estava calada soluçou no escuro. E como
todas se voltassem pôs-se a rir e a ajeitar os cabelos.
– Eu tive um filho e pus-me a criá-lo.
Depois disso o meu amigo nunca mais quis saber.
Quando eu o procurava ria-se. Mostrava-lhe o
inocente e ele punha-se a rir. – Mulheres não
faltam, dizia-me. Vai-te! – E a gente fica feia. Vai
um dia e disse-me: – Se cá tornas chamo a polícia.
– Eu chorei até não ter mais lágrimas e acabou-se
tudo. São todos o mesmo. Noutro dia vi-o, mas ele
fingiu que não me conheceu.
– E o teu filho era bonito?
– Era um anjinho do céu. Tanto chorei que secou-se-
me o leite de chorar. A gente sempre e mais tola!…
Pôs-se muito chupadinho e morreu.
– A Maria já deitou um à roda.
– Eu cá se tivesse um filhinho acho que morria
por ele. Não tinha coração para o dar a criar.
– A gente não podemos ter filhos.
– Eu cá era uma inocente. Até me dá riso! Tinha
treze anos e foi logo ao entrar para a fábrica. O mestre
foi quem me desfrutou. Agarrou-me, mas eu não sabia e
pus-me a chorar. – Cala-te! se dizes, vais para a rua! –
Abandonou-me, outros vieram… A gente há-de cumprir
o seu fado.
– Eu cá fui um miminho. Meu pai tinha de seu…
Depois tudo esqueci, porque senão a gente morria. Meu
pai era muito meu amigo. Era preciso não ter coração
para o enganar. Nem ele podia supor mal de mim, nem
do outro que entrava na nossa casa. Meu pai era também
muito amigo dele e tinha-lhe valido sempre. Ainda me
lembro, quando meu pai comigo no colo me dizia: – Tu
és o meu coraçãozinho… – Eu sempre tive um colo!
Olhai: embalava-me como às crianças. – Falta-te a tua
mãe, mas eu sou a tua mãe, queres? – Era uma dor do
coração enganá-lo e nós enganámo-lo ambos. E eu bem
sabia que ele era casado, mas mentia-me…
– Porque será que os homens mentem sempre?
– Mentia-me sempre, e eu era inocente. Mentiu-me
e mentia a meu pai. O pior é que um dia fiquei
grávida. Começou o meu castigo. – Vou-lhe dizer tudo.
– Diz – disse ele. Mata-lo. Se queres diz… – Eu calei-me.
– E agora? – Agora… – Eu já lhe não queria, acho
mesmo que nunca lhe quis deveras. Foi uma desgraça.
Já estava escrito que fosse desgraçada, acabou-se!…
Depois não podia esconder o meu erro. Só meu pai não
reparava… E ele que me imaginava uma inocente!…
Esperai… – E agora? agora?… – perguntei-lhe. Então
arranjei com que meu pai me deixasse ir com ele e a
mulher para uma quinta. Se vós vísseis! A pobre da
mulher! Batia-lhe sempre, tratava-a pior que a um cão.
– Cala-te! e ela calava-se, a pobre. – Fala! – e ela falava.
– O estupor, tu não te calarás! – Ela tinha os cabelos
todos brancos e vai eu um dia perguntei-lhe quantos anos
tinha. – Trinta – respondeu-me, e calou-se. Fiquei
passada. O homem diante dela dava-me beijos para a
ver chorar. Dizia-lhe: – Vou dormir com ela, ouves,
velha? – E dormia comigo. A senhora não dizia palavra.
Chorava e punha em mim uns olhos tão tristes, que
faziam aflição. Um dia que ficámos sozinhas, ela disse-me:
– A menina há-de ser uma infeliz. – Eu chorei; e ela
com a mão nos meus cabelos, a fazer-me festas! –
Coitada! coitada, que sorte a sua tão negra!… Ainda eu…
– Porque não o deixa? – perguntei-lhe. – Já me tinha
deitado ao rio se não fossem os meus filhos.
– Ele sempre há desgraças! Às vezes mais vale ser
mulher da vida.
– Esperai pelo resto. Tive as dores uma noite no
verão, em a gosto, e a pobre da senhora é que me tratou.
Ele levou-me logo o filho. Na outra sala ouvi gritos. Vai
e atirei-me pela cama fora, sem saber o que fazia. – Onde
está o meu filho? – Fui mesmo de rastos e pus-me à
porta a escutar. Eles berravam. – Se falas esgano-te! –
dizia o malvado à mulher. – Mata-me! – tornava ela. –
Tu queres a minha desgraça? Estorcego-te! – Depois ouvi
um grande grito e fiquei como morta. – O nosso filho? o
meu filho? – Nasceu morto. – A mulher a um canto
chorou. Chorou sempre depois.
– Tinha-o matado, o malvado?…
– Tinha. Afogou-o na latrina. Depois veio a polícia.
Esperai… A criada ouvira os gritos. Sabe-se sempre
tudo, o diabo tapa dum lado e descobre do outro. Ele
fugiu para o Brasil, eu fui presa, e meu pai diante duma
ingratidão tão negra – quereis crer? – estalou-lhe o
coração. Depois… depois… A gente quando nasce já tem
a sua sina escrita.
– E a ti?… Não falas? – perguntam a uma sumida
no escuro.
– A mim enganaram-me. Foi há tanto tempo que
já me não lembra. Tudo perdi.
– E a tua família?
– A gente não tem família.
Na noite, a um canto do Hospital o velho banco
de tábuas puídas, dá-lhe também para cismar. A ventania
parou. Duma fresta tomba luar. A treva amontoa-se ao
fundo, e, para além, nos corredores abobadados, arde
um lampião. Direis que o negrume remexe: pedaços de
escuridão destacam-se, escoam-se sem ruído pelas
muralhas húmidas e espessas. Mais para o fundo há como
um abismo, vala comum de treva empastada. Os gritos
redobram; depois, por momentos o silêncio sufoca, como
o dum sepulcro.
– Se é luar que cai daquela fresta… – cuida o banco.
– Se fosse luar!
Pela escada vê-se a enfermaria onde os lampiões
em fila dão uma claridade triste, que mostra os corpos
moldados em branco, caídos nos leitos: parece uma
necrópole subterrânea e imensa.
– Se fosse luar… – Há que tempos que não sinto o
luar. Era como um ruído branco que me envolvia outrora
na floresta. Neva às vezes luar. E havia ainda outras
vozes… Sempre se sonha, quando certas noites nascem!
Era diferente… Havia rumor nas folhas e o vento dizia
aos ramos histórias acontecidas noutros montes. Há
épocas em que o vento traz noivados, ais de sapos,
frangalhos arrancados às flores… Se aquela poeira fosse
luar… E se o luar se pusesse a correr sobre mim, aquecendo-
me como outrora, quando em mim subia não sei
o quê de misterioso e forte?
Redobram os gemidos, os estertores, os gritos. Os
últimos lampiões apagam-se um a um, como se alguém
lhe soprasse. É a Morte seguindo o seu caminho. Sombras
esvoaçam. E a cova, negra, toma corpo, vive, mais
calada, maior, vala infinita, a que uma luzinha dá alma.
E o banco cisma:
– Há que tempos que não sinto em mim a luz da
manhã, que traz consigo a vida de tudo o que existe, dos
rios, das outras árvores, nem o sol a crescer em vagas de
oiro, nem a água verde, melancólica, e tão mansa entre
os choupos que parece ir vogando já morta… Sinto-me
transido… Transido? Isto é corno fogo, mas trespassa208
me de frio. E não há nevão, mas ouço sempre gritos, ais,
dores… Oh se fosse luar!… Destas enfermarias corre
também um sonho parecido com luar… Será uma fonte?…
As fontes! nem te lembres das fontes!… Aqui parece que
as minhas fibras mergulham num mar revolvido, que eu
ignoro, mas que é feito de gritos.
Baixo a pedra começa também a lembrar-se e
àquela hora perdida da noite toda a alma inconsciente
do Hospital estremece. Quer recordar, palpita e logo
esquece… Os sonhos dos doentes, dos pobres, dos tristes,
materializam-se e são como nuvens: são de fogo, são de
luar. Sombras aos bandos dissolvem-se, para outra vez
se criarem.
– Acho que sempre é luar… E quando havia sol?
Torrentes corriam pelo meu tronco, inundavam a minha
roupa cascosa e em volta numa poeira azul andava um
turbilhão de bichos. Outras árvores flutuavam na mesma
poalha e as suas folhas ou eram de sol ou todas de prata.
Longe – e que encanto aquela companhia sempre
presente e amiga! – o fio do rio chalrava. Folhas caíam e
iam devagarinho viajar sobre a água verde. Para onde?…
Debaixo de mim, até ao mais fundo das minhas raízes
quantas vidas protegi e defendi!… As minhas raízes
tocavam na vida!… Às vezes caia um pé de água, mas
depois vinham sempre teias de sol, fios de sol, para me
enredar – e o sol traz consigo um cheiro a terra e renovo
que consola, o hálito dos montes e dos pinheiros meus
amigos.
Nas temporadas fúnebres em que a água cai a
golfões, a gente concentra-se e fica meio adormecida.
Os montes envolvem-se em nuvens, os bichos na terra
tremem de frio sob as raízes e as folhas secas estalam e
gemem com saudades ao deixarem-nos. Se por instantes
se descerra a névoa, os montes são mendigos, com um
grande manto remendado. Ao fim da tarde levanta-se
dos campos um lindo luar azulado que sobe e se dispersa.
É a névoa. Baba de oiro luz na água e os choupos são
sombras. Ao longe havia um biombo verde de pinheiros,
depois montes, e depois poentes doirados… Porque é que
me ponho a pensar e a cismar? Há tanto tempo que
dormia! As minhas fibras esta noite estremecem. Há-de
ser do luar… Oh se ainda houvesse luar!
As mulheres calaram-se. Não há ruído. Elas
próprias sonham. Em torno da mesa, na cozinha
saqueada, bebem sem palavra o vinho quente. Algumas
pensam decerto num lar e bebem as lágrimas que caem
no vinho e o gelam.
– A esta hora a minha mãezinha há-de por força
pensar em mim… – começa uma.
– E tu porque não foste consoar com ela?
– Punham-me fora! queriam-me lá!… Meu pai,
meus irmãos…
– Em minha casa faz-se uma consoada muito
grande. Assam-se pinhas no lar, e minhas irmãs
pequeninas… oh minhas irmãs pequeninas!…
E sufocada desata de repente a chorar. As outras
não se riem como de costume. Só uma, sentindo que
iam todas chorar, canta:
Se vires a mulher perdida…
– Raparigas, é o fado… De que serve agora chorar?
Ninguém foge ao seu fado.
– À noite a minha mãe aquecia vinho e dava-mo
na cama. Sempre a gente é criada para uma vida! Quem
adivinha?
– Cala-te!
– Eu era o miminho de todos, eu…
– Só eu nunca tive mãe, de mim ninguém se
importa! Acabou-se! Cala-te! cala-te!…
Na escuridão as cinzas que restam num lar fazem
tristeza e saudade. Brilham, esmorecem, vão-se apagar:
são vidas que se extinguem, a alma da treva que em redor
sufoca. Assim o Prédio ao abandono, sob a enxurrada,
parecia cismar, como um rescaldo coberto de cinzas.
Parara trágico defronte do Hospital, e cansado, tal como
um pobre ao fim da vida, contempla o seu destino.
Natal dos pobres! Natal amargo dos que não têm
pão e se juntam friorentos em torno dum lume que não
aquece; natal dos seres que a desgraça usou… O vinho
enregela, o pão é duro, mas resta ainda este lume, que
jamais se apaga: – Amanhã! amanhã!…
Que poesia tão triste não vai caindo como um choro
sobre aquelas almas de misérrimos, de gebos, de
prostitutas, de desgraçados!
Numa trapeira o gato-pingado quer dizer: – Amo-te!
– mas foi sempre tão nu que não sabe exprimir o que
sente.
Na alma daquela criatura humilde, despida e
escarnecida, que tinha medo de sonhar e até de chorar,
fizera-se um clarão. Tal o espanto enternecido duma
pedra a que uma raiz se apega e que a olha deitar flor na
primeira primavera. – Fui eu, apesar da minha secura,
pensa o calhau, que a trouxe no ventre.
Sem falar, bebem juntos, ele e a pobre, o mesmo
vinho. Ele diz:
– Ambos somos desgraçados e sozinhos.
O vinho que havia aquecido dá-lho com um pedaço
de pão. Ela olha-o, tendo sempre crescido por acaso
e piedade, rota e triste. Havia pois alguém que a
amasse?…
– Bebe.
– É tão bom a gente estar junta.
– Não se tem frio.
– Esta noite, sabes?… Lembro-me de minha mãe…
Porque seria que ela me enjeitou?
Fora choram. Ela ergue-se e vê no corredor uma
rapariguinha que a mãe pôs fora da porta e que chora e
pensa.
– E se eu me deitasse a afogar?
Dá-lhe do seu pão, reparte do seu vinho e, mísera,
rota, ressequida, diz, pondo-lhe a mão na cabeça:
– Deus te crie para boa sorte…
Na terra só os pobres sabem ser desgraçados.
Meia-noite! meia-noite!… Para que tudo se crie,
para que o pó se transforme em vida, que é necessário?
Torrentes de chuva, oceanos de água. Eis a vida… Para
que do que é matéria algo de radioso irrompa, que é
preciso? Um atlântico de lágrimas.
Da matéria tem nascido à custa de gritos, de fibras
torcidas, o imorredoiro espírito. Através das idades ele
se criou, através da dor veio surgindo. O mundo espiritual
é já hoje mais vasto que o mundo material. A dor é a
primavera da vida. Para se entrar na vida ou para se entrar
na morte há sempre gritos. A dor ara o céu cheio de
estrelas e os seres humildes.
Que se cria de tudo isto? que é que se alimenta no
infinito? Destes pobres espezinhados, revolvidos, nascem
as coisas eternas – húmus, amálgama, protoplasma,
espírito lácteo, com que se constroem os mundos. Na
vala comum os seus corpos, cansados de sofrer, são a
vida da terra: as árvores, o pão, as formas, a seiva
esplendente. No infinito é da sua dor que se sustenta
Deus.
Maio de 1899 / Janeiro de 1900.
(Raul Brandão)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um presépio vivo em sua casa





Certamente você sabe que o primeiro presépio foi realizado por São Francisco de Assis e que ele não foi feito com estatuetas de barro.Ele foi um presépio vivo, com pessoas vivas, com animais, com palha, com manjedoura... tudo vivo.
O costume continuou e resultou nos nossos presépios de hoje.

E hoje quero lhe dizer:
Neste Natal, Deus quer um presépio vivo na sua casa, com as pessoas vivas que são a sua família, com as coisas todas que compõem a sua casa, com os problemas vivos e com todas as situações.
Sim! Também com os problemas! Também com as situações!
Porque não se trata de uma encenação, mas de uma realidade.Você pode imaginar a situação constrangedora que José e Maria enfrentaram?
Os problemas que eles tiveram. As situações terríveis em que se viram envolvidos? 
E eles eram a "Sagrada Família".
Não estranhe: se a "Sagrada Família" enfrentou tantos problemas, é natural que sua família 
os enfrente da mesma maneira.
O seu presépio se compõe disso também: lágrimas, sofrimentos, preocupações, saudades....
Mas Deus quer que seu filho Jesus nasça no presépio vivo do seu lar, como Ele nasceu no
presépio de Maria e de José.
Deus está com você. Não duvide. Ele escolheu sua família para nela fazer nascer Jesus, o Salvador. 
Acolha-O com amor e carinho.
Que a paz reine em seu lar durante todos os dias do ano!


Com carinho!

Nota: recebi de meu especial amigo, o poeta Mário Neves do lindo blog Amor...desbragado Amor e compartilho com vocês.


Obrigada, Mário! Que a Paz da Manjedoura divina esteja contigo também.
BOAS FESTAS!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Minha querida Bianca

Bianca é assim. É uma menina triste e quietinha, e não gosta de falar muito. Não exagero se afirmo que ela também não gosta (!) de tomar banho, chora muito, talvez pela sua natureza muito sensível... e acrescente-se ainda o fato de ter perdido sua mãe esse ano, conforme afirmei anteriormente. Ou então, comporta-se deste modo por pertencer a um mundo tão sofrido e carente como é o seu mundo particular!
É linda, a minha Bianca.
O P.E.T.I. (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) foi, sem dúvida alguma uma das melhores coisas que me aconteceram, nestes últimos tempos. Apresentou-me essa garota, e me presenteou!
Bianca é minha afilhadinha natalina deste ano...
Portadora de HIV, todos procuramos tratá-la com a mais absoluta naturalidade, pois assim tem de ser. Assim é.
Existe algo em Bianca que me intrigou desde que a conheci: ela possui nítidos traços de uma pessoa que entrou em minha família há anos, e que se tornou nosso sangue pela semelhança física (tão grande quanto os ideais). Prometi  a mim mesma que irei acompanhar Bianca nos anos que se seguirem, ainda que não seja convidada para continuar atuando no PETI em 2012.
Entre essas e outras semelhanças (que não são meras coincidências!) quando adotei Bianca como minha afilhada de Natal, resolvi que daria a essa menina-moça muito mais do que ela pediu, na cartinha, para o seu Papai ou Mamãe-Noel.
Esses dias, com muito carinho e bastante cuidado, fui ter uma conversa com ela no refeitório da escola, com a simples finalidade de retirar de seus desejos (não revelados na carta) o que mais lhe apetecia ganhar, "caso fosse eu a sua madrinha-noel".

- Um celular, tia! Eu tenho muita vontade de ter um celular!

- Bianca - eu disse - tomara que o seu padrinho ou sua madrinha possa  ouvir nossa conversa, através de um sistema do céu que só Deus conhece, e possa te dar um celular, querida! Já pensou?? Vamos pedir então a Ele que ele atenda a  seu pedido, está bem?

Disse tchau pra mim, e foi correndo para sua oficina de Arte. Essas palavras eu disse com a emoção aflorada, e solidária com sua grande vontade de ter um celular. Fiquei com um nó-cego na garganta.
Após a aula de Arte, encontrando-me na Biblioteca, Bianca retira do bolso da sua calça jeans um celular -  parecido com o meu (simplesinho de doer...) e me assusto com aquela cena inusitada por dois bons motivos, pois aquela situação havia me surpreendido duplamente. Primeiro, porque é proibido (por lei) portar celular no ambiente da escola - e, claro, aproveitei o ensejo para exortá-la sobre isso. Segundo...a Bianca não estava "roxinha" de vontade de possuir um celular, exatamente duas horas atrás??...Com certeza, não era dela o aparelho, claro que não.

- Pior que é, tia! Falou quase gritando a Kauanne, os olhos arregalados e fuzilantes na "indisciplina" da Bianca, como que corrigindo a coleguinha  - lançando faíscas pelos mesmos olhos - de desaprovação - arregalados, e nos gestos nervosos de quem gosta de obediência! E ainda por cima, Kauanne é priminha do nosso querido jovem Psicólogo - Eduardo -  e com que orgulho essa menina mostra ao seu ídolo que age com retidão, e sente um prazer muito grande em fazer tudo bem feitinho só para agradá-lo!
Enfim, para minha segunda surpresa (e espanto!), quase caí durinha da mesa onde havia subido para pendurar os enfeites de Natal que estou confeccionando!

- Tia, esse celular é MEU, mas sabe, tia? Eu quero ganhar um celular rosinha ou roxinho, que tira foto, que posso ver meu orkut, e o blog da senhora, e blá, blá, blá...

Bianca não sabe, e não saberá talvez nunca, mas eu aprendi com ela uma grande lição. Uma criança triste do PETI jamais deve ser subestimada, apenas porque pertence àquele mundo carente e sofrido que afirmei no início!!! Essas crianças sofrem, sim! Mas sabem sonhar alto também, e não desconhecem as coisas boas de nossa realidade!!!
Apenas um porém: nós, educadores, temos a nobre e importante missão de canalizar esses desejos de nossos alunos para a realidade espiritual, mostrando-lhes (e provando!) o quanto é bom, sim, TER, mas quão maravilhoso e enriquecedor para nosso crescimento, SER.

Conversando com Bianca, que tem seus 13 (treze) anos sobre essa diferença, ela me diz:

- Eu TENHO algumas coisas, mas sabe, tia,  eu quero estudar pra SER enfermeira.

Missão cumprida, Bianca guardou seu celular (já não no bolso, mas na mochila) depois de desligá-lo, obedecendo a um pedido meu,  e desde aquele dia, não toquei no assunto, e nem ela disse mais nada.
Será que percebeu que um celular "rosinha, que tira foto, acessa orkut, acessa os Botões de Madrepérola e todo cheio dessas parafernálias modernas" é muito insignificante para quem o assunto agora é somente dar ALEGRIA para sua avó neste Natal??
Eu não tenho dúvidas que SIM.


Fiz esses Scraps para ela, e vou escolher um, pra emoldurar e juntar aos presentes da Bianca:








Beijos!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Natal com lua cheia, chuva miúda e perfume de jasmim




De todas as minhas lembranças de menina, a mais viva está guardada nesta caixinha de fósforos.




Toda vez que abro a caixa a lembrança explode inteira, livre, com todas as cores daquele Natal.
Natal nordestino, com muito sol, muita folha de pitanga, muita angélica. Muitos licores de jenipapo. Muitos doces (muito doces).
Muitos perus engordados à força no quintal.
Vovó Candinha aparece sorrindo, abrindo o seu armário.
Era um armário cheio de caixinhas.


Caixinhas de todos os tamanhos, cores e formas. Ela levava o ano inteiro preparando estas caixas.
Vejo os lenços sendo bordados, num bastidor pequeno.
Fio por fio, ponto por ponto, iam surgindo as flores, as letras.
Depois, chegava o tempo dos centros de mesa, das toalhinhas de bandeja, de renda inglesa. Das golas brancas de crochê. Dos panos de prato pintados.
Quando cada peça ficava pronta, ela escolhia uma caixa.
Forrava com papel fino e colocava um pedacinho de naftalina dentro.
Fazia um lindo pacote, escrevia o nome da pessoa num cartãozinho.
E dava laços e laços bem amarrados na caixa. Estava pronta a lembrança de Natal.
E ninguém podia abrir mais a caixa:
- Não se pode abrir as lembranças de Natal antes do tempo!
As lembranças de minha mãe vinham de fora, das lojas, do comércio.
Ela saía com uma sacola vazia e voltava carregada de lembranças.
Depois que descansava, escondia as lembranças lá em cima do seu armário.
Na semana de Natal as lembranças eram colocadas debaixo da árvore.
Ficavam ali, misteriosas, trancadas, amarradas, nos seus grandes laços coloridos, brilhantes.


Só eu é que era pequena, sem caixas, sem lembranças...
Só eu é que não tinha lembranças para dar a ninguém.
O que é que uma menina de minha idade tem?
Tem bonecas usadas. Livros lidos. Coisinhas miúdas.
Não dava para embrulhar minhas coisas velhas e colocar na árvore de Natal, com nome escrito em cima.
Enquanto eu brincava com as minhas caixinhas de fósforos pensava nisso tudo.
Não sei por que eu juntava tantas caixas de fósforos vazias!
Serviam, é claro, para móvel de casa de boneca, para guardar pedrinhas, flores secas. Sei lá, eram minhas caixinhas...
Mas um dia, quando eu arrumava as caixinhas, uma em cima da outra, no meu armário, vi dentro de uma delas, uma estrela brilhando.


Fechei os olhos. Ou será que eu abri?
Não sei.
Sei que abri outra caixa e vi, lá dentro, um navio apitando num cais.


Abri mais outra caixa bem devagar, com o coração batendo e encontrei, imagina, uma lua cheia!


E fui abrindo, entre sorrisos e emoções, cada caixa.
Encontrei um peixinho listrado de azul e dourado!


Encontrei uma rosa branca!


Encontrei um sorvete de pitanga. Um pedaço se sol...


Brinquei de abrir e fechar as caixinhas de fósforos durante dias.
As lembranças se acendiam e apagavam como fósforos - brilhavam!



Até que um dia resolvi prender estas lembranças dentro das caixas de fósforos. Trancá-las para sempre num pedaço de papel.


Fui desenhando as coisas que estavam dentro das caixas.
E fui escrevendo devagar, com cuidado, o que eu via.
Assim:
Lembrança de uma lua cheia, com perfume de jasmim.
Lembrança de um peixinho azul, listrado, brincando na poça de Itapoã.
Lembrança de um sorvete de pitanga.



Lembrança de um banho de mar, no Porto da Barra...


Depois, dobrei as minhas lembranças bem dobradas, sem que ninguém visse.
E coloquei cada uma dentro de uma caixa de fósforos.


Peguei os pedaços de papel de embrulho que sobraram das lembranças de vovó e fui enrolando as minhas lembranças.


Escrevi o nome de cada pessoa em cima.




Amarrei com laços bem amarrados.


E guardei as minhas lembranças num canto do meu armário.


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NATAL COM LUA CHEIA, CHUVA MIÚDA E PERFUME DE JASMIM

de Sonia Robatto


(Projeto Zepelim)

Sinopse do livro
Com delicadeza e graça, este livro conta a história de uma menina que resolve preparar, como a mãe e a avó, presentes para serem entregues na noite de Natal, mas as suas caixinhas são especiais porque guardam singelas e mágicas lembranças. Fazendo da memória a sua matéria-prima e da poesia a sua força de expressão, Sonia Robatto recria, com lirismo e grande sensibilidade, momentos marcantes da infância.

Biografia do autor

Eu queria contar um segredo para vocês, o segredo dos meus personagens. Acho que vocês não sabem como nascem os personagens das minhas histórias. Sabem? Às vezes eu os encontro na rua, na praia, na minha casa, num avião. Nesse caso as pessoas viram personagens e passam a viver na minha imaginação, até que eu escrevo as histórias, e eles passam a viver nos livros. Minha avó, por exemplo, D. Candinha, é personagem de muitas histórias minhas. Hoje em dia, eu não sei dizer qual das duas avós é a mais verdadeira, a das histórias ou a da minha família. Às vezes não nascem de pessoas, já nascem personagens com muita força e querer. De onde eles vêm eu não sei! Eu gosto muito de viver com os meus personagens.
Mas, não é que eu me esqueci de me apresentar? Eu sou Sonia Robatto, sou escritora há muitos anos e sou baiana, nasci em Salvador, perto do mar. Prazer em conhecê-lo.

Ficha técnica

  • Ilustradora: Marilia Pirillo
  • Formato: 18 X 26 cm
  • Número de páginas: 24
  • Coleção: Hora viva
  • ISBN: 978-85-385-2025-2
  • Indicação: A partir de 6 anos

Proposta de trabalho

ANTES DA LEITURA

1. Antes da leitura do livro, converse com as crianças sobre os Natais de que se lembram. Escute-as falando de suas recordações e pergunte se cores e cheiros também estão presentes nas lembranças. Comente que muitas famílias têm o costume de chamar os presentes de Natal de lembranças, ou lembrancinhas. Por que será que as pessoas dão esse nome – lembranças – aos presentes? Motive os alunos a fazerem seus comentários.
2. Dê algumas informações sobre o Natal, dizendo que se trata de uma festa cristã (o cristianismo engloba católicos, protestantes e anglicanos), que celebra o nascimento de Jesus Cristo. Atente para o fato de que famílias de religiões diferentes podem não ter o costume de celebrar essa data e que cada religião possui suas datas festivas, todas dignas de respeito. Pergunte se alguém do grupo é de família que segue outra religião e, em caso afirmativo, proponha que conte, se quiser, um pouco sobre outras datas festivas religiosas.
3. Normalmente há comidas típicas nas festas religiosas – no Natal, o peru e as frutas secas são bons exemplos. Lembre que, nas festas natalinas, existem também símbolos, como a árvore enfeitada e o presépio. Algumas famílias colocam embaixo da árvore alguns presentes e, após a meia-noite do dia 24 de dezembro, as pessoas trocam os presentes entre si, como demonstração de carinho. É importante comentar, entretanto, que alguns povos e algumas religiões não possuem esse costume.
4. Pergunte se os Natais que os leitores passaram foram, em sua maioria, quentes ou frios. No Brasil, o Natal acontece no verão. Se quiser, discuta o estereótipo do Natal com neve que, na verdade, não combina com um país tropical como o nosso. Essa discussão pode ser resgatada na exploração da narrativa, já que o Natal em questão é uma festa com as características do clima brasileiro, em especial do Nordeste.
5. O costume de colocar as lembranças embaixo da árvore é característico do brasileiro e de muitos outros povos. Proponha aos leitores uma “visualização de lembranças”. Comece pedindo para que todos fechem os olhos e imaginem uma árvore de Natal cheia de presentes embaixo. Conduza a atividade dizendo para pensarem nas cores e nos tamanhos das caixas e nos papéis de presente, assim como nos cartõezinhos, na altura da árvore e nos enfeites que ela possui. Depois, peça que comentem como são as lembranças imaginadas.
6. Informe os leitores que o livro que será lido traz as lembranças de uma garota muito sensível e muito criativa. Apresente o livro às crianças e convide-as a folheá-lo à vontade, observando algumas ilustrações, o título, o nome do autor e do ilustrador. Leia para o grupo os textos de apresentação da autora e da ilustradora que se encontram na última página do livro. O que o título sugere? Como será esse Natal? Parecido ou não com os Natais que conhecemos? Por quê?

DURANTE A LEITURA

1. É interessante chamar a atenção dos alunos para a forma como o texto se organiza. É uma narrativa e, portanto, apresenta elementos desse tipo de texto: narrador, tempo, espaço e personagens. No entanto, a forma como a narradora conta suas lembranças tem um toque de poesia. O texto apresenta algumas imagens poéticas para expressar as memórias da narradora e a sua disposição na página, com frases curtas, lembra a composição de um poema.
2. Converse com os leitores sobre as imagens que a garota viu dentro das caixinhas de fósforos. O que ela fez para que essas imagens não desaparecessem? Estimule-os a refletir sobre o valor da escrita, que pode imortalizar lembranças, assim como, por exemplo, uma fotografia. Leve-os a pensar em que outras lembranças de Natal, além dos cartões, a palavra escrita pode estar presente
3. Chame atenção dos alunos para a técnica empregada para se ilustrar o livro: mescla de pintura e colagem. Peça às crianças que observem como a ilustradora se utilizou de tecidos para criar os desenhos: as rendas brancas localizadas na parte superior das páginas 8 e 9; as folhas da árvore da página 13, que foram feitas com tecido xadrez; as velas do barco da página 16, feitas com tecido cor-de-rosa, e o sol dessa mesma página, representado por uma flor de tecido branco. Os enfeites da árvore de Natal também apresentam tecidos. Incentive os alunos a refletir sobre a composição das ilustrações. A presença de tecidos e rendas pode estar relacionada à importância que a personagem-narradora dá aos bordados e crochês da avó?
4. Há duas ilustrações no livro que sugerem que a garota é uma leitora. Quais são elas? A ilustração das páginas 14 e 15, na qual observamos, em primeiro plano, um volume com a palavra “clássicos” na capa, e a da página 19, em que vemos um livro intitulado Contos de fadas. Estimule as crianças a encontrar, no texto, um trecho que nos confirma o hábito de leitura da menina (“O que é que uma menina da minha idade tem? Tem bonecas usadas. Livros lidos. Coisinhas miúdas.”).

DEPOIS DA LEITURA

1. Peça aos alunos que voltem às ilustrações das páginas 15 e 19, em que aparecem os livros da menina: um de clássicos e outro de contos de fadas. Proponha uma busca, na biblioteca da escola, de livros clássicos e de contos de fadas para que possam ler juntos. Se possível, leiam alguns textos de Charles Perrault, dos irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen ou de Marina Colasanti.
2. Em determinado passagem do texto, a menina parece lamentar por não poder, assim como a mãe e a avó, preparar ou comprar lembranças de Natal: “Só eu é que era pequena, sem caixas, sem lembranças...” (página 12). Quem é “pequeno” não pode ou não tem como presentear? Incentive as crianças a refletir sobre essa questão. Depois, proponha aos alunos uma atividade (que pode ser feita junto com a professora de Artes): produzir lembranças de Natal como as que a protagonista da história inventou. As crianças devem escrever em tiras de papel algumas imagens de que se recordam com carinho e que gostariam de dar de presente a alguém. Lembrar-se de cores, movimentos, perfumes e personagens de momentos bons que já viveram poderá ajudar as crianças a registrar suas lembranças. Depois, é hora de embalar essas lembranças. Os materiais para a criação das embalagens podem ser bem simples: caixas de fósforo, de papelão ou de lápis de cor, retalhos, entre outros. É possível enfeitar essas embalagens com miçangas, lantejoulas, tintas, fitas, colas coloridas, papéis estampados.

Colaboração: Ana Cristina de Aguiar Bernardes e Lindsey Rocha

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