segunda-feira, 3 de janeiro de 2011



Meu Discurso de Formatura: 
Alunos do Curso Técnico de Mecânica
Escola Estadual Professor Ladislau –

~ ~ 0 ~ ~

Exma. Sra. Marta Hermelinda Toledo, Digníssima Superintendente da 32ª. Superintendência Regional de Ensino
Exma. Sra. Romilda Reis, Digníssima Inspetora Escolar
Exma. Diretora Rogéria Aparecida Ferreira de Oliveira
Prezados pais,
Estimados colegas professores,
Caros alunos,


O escritor e psicólogo Vaden Hylan comparou certa vez, sabiamente, o homem a uma Máquina de Sonhos...e Einstein, por sua vez, afirmou que “não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque assim poderá se tornar uma máquina útil, mas não uma personalidade harmoniosa, desenvolvida.”
Neste encerrar de Curso, quando finalmente todas as tarefas foram cumpridas e todas as etapas galgadas com tão árduo empenho, constatamos hoje, em meio a incessantes lutas, que todos só vislumbrávamos a vitória! Sonhamos com ela, idealizamos mil projetos entremeados com as leis do movimento e do equilíbrio, estabelecemos mil relações entre forças e movimentos, para chegarmos, enfim, na teoria da ação das máquinas.
Em um país em que as hierarquias foram anuladas, acabando por destruir a autoridade, em detrimento de prerrogativas, antes atribuídas conforme o merecimento de cada um, a autoridade do mestre era incontestável, tanto pessoal como profissionalmente. Porém, mesmo diante desse quadro real, cruel e indigno, vocês nos edificaram com sua gratidão, carinho e respeito, num clima de amizade, forças e encorajamento que nos envolvia a todos orgulhosamente!
E mesmo face ao capitalismo pedagógico (selvagem!) a que assistimos hoje, o poder econômico substituindo a autoridade e a ética, vocês, alunos, procuraram ser, durante todo o Curso Técnico de Mecânica, sensíveis, críticos, relevantes, buscando sempre considerar o que deveria ser mudado e o que necessitava ser preservado.
Vocês desejam alçar voos...e desnecessário se torna repetir aqui tudo que se tem dito a respeito de nosso país, tão nosso, tão grande, tão liberto, e ao mesmo tempo situado ainda como país de 3º mundo, onde os cursos profissionalizantes são valorizados somente quanto ao lucro que podemos dar, e aos números a mais que podemos representar, frente às grandes potências mundiais!
Será que vocês, estudantes de hoje, profissionais iminentes, poderão conduzir nosso país com disciplina, cautela, seriedade e inteligência, provocando transformações históricas diante desse quadro muito negro com que ora deparamos? De um lado, avultam palcos suntuosos, próprios de países abastados, e de outro, fazendo afronta, o quadro de revoltante miserabilidade do país!
Porém, não podemos nos deixar abater! Entre alienados e revoltados, perguntemo-nos sempre de que forma poderemos contribuir com nossos esforços, poucos ou muitos, para a  reversibilidade da situação. Argumentemos com nossa própria vida, buscando caminhos alternativos que irão propiciar sustentação a novos e grandiosos ideais!
Disse Murilo Mendes, e isso lá se vão anos, que “o governo divorciou-se por completo das aspirações populares”...Diante desse processo de transformação individual e social, onde a revolução para captar valores e concepções tornou-se global, urge que revejamos nossas atitudes e nosso estilo de vida, com autonomia e responsabilidade. Não podemos continuar alheios e insensíveis diante desse dilema que assola nossa sociedade, fruto da modernidade dos ideais capitalistas, presente em todas as instituições, principalmente escolares, num contraste aviltante com propósitos humanos, e numa defasagem de inovações de pensamento que não condizem com sua função de “reparar o cidadão para o futuro”!
Em suas redações escolares surgiram muitas afirmações elegantes, pertinentes e sábias : “A Mecânica, como ciência rotineira e racional, e o profissional como precursor do progresso, unem-se e tornam-se parte integrada e gratificante na construção do futuro”, afirmou Rivail Donisete Cândido. Descortinam-se, então, hoje para vocês, novas perspectivas, e precisamos lembrar sempre  que “na carreira de Mecânica nunca existe o melhor mecânico, pois estamos aprendendo sempre”, nas palavras de Evair Cordeiro.
“Acreditamos que levamos este Curso a sério, com muita determinação e vontade, e caminhamos para sermos profissionais em uma área ampla, vasta e muito bem cotada; e, nas indústrias, através do nosso trabalho, esforço, aprimoramento e conhecimento adquiridos, nos realizaremos profissionalmente”...conforme  palavras de José Donizetti Fraga.
Ao Homem foi dado o poder de reflexão e de decisão e o domínio da tecnologia. Porém, ele os utiliza para a destruição, onde o indicador principal chama-se materialismo, visto que o progresso abalou o ser humano até onde a ambição alcança! A Ciência e a Tecnologia, hoje, alcançaram níveis inimagináveis! Não há mais barreiras entre realidade e sonho. Há apenas que se compatibilize o progresso com o ser humano, onde as máquinas não o dominem, mas são dominadas por ele. Ainda hoje soam em nossos ouvidos as palavras de Chaplin: “Não sois máquinas, sois homens!”
Ora, não somos máquinas...mas se somos uma máquina de sonhos conforme afirmou Hylan, somos altamente reflexivos...portanto,jamais deveremos nos esquivar de nossas obrigações e ideais mais nobres! Alguns, entretanto, corrompem-se, ao desfrutar de conhecimentos pouco benéficos, e vangloriam-se em virtudes como semideuses, esquecidos de suas próprias fraquezas: a mesquinhez, a ganância, o subterfúgio, a superficialidade de seus sentimentos e atitudes. Não obstante a precariedade da condição humana, devemos ser criativos, sensíveis, apregoar nossas ideologias, defender causas nobres e propor novos valores! Saber dizer não à cópia fiel e fácil de uma realidade que não é tampouco nossa, com a sensatez de quem sabe distinguir e argumentar, sempre. Entrar em harmonia com o conjunto, estabelecer-nos, em defesa de nossas próprias convicções!
Se compararmos o homem a uma máquina, direi que já fomos o “protótipo” em fase de teste, sofremos vários ajustes, para enfim, sermos incrivelmente regulados! E assim, conseguimos chegar: chegamos onde nossos ideais alcançaram e avançamos até onde nem imaginávamos que podíamos!!!
Amados: diante dessa nossa inexorável realidade, onde o clima está clamando por economia de forças, onde verdadeiras odisseias de marchas e contramarchas entravam as mais simples operações de toda natureza, a Vida precisa ser compreendida como integração num dever comum; e todos juntos, recomeçando de onde outros pararam, estagnando-se sem forças para continuar, possamos avançar sempre mais, conscientes de nosso perfeito papel de prosseguir e ir adiante, com toda responsabilidade!
Ouve-se falar em modernidade internacionalizante, economias abertas, e assim, assistimos, estarrecidos e indignados, a anti-humanidade desse regime, pois vivenciamos, dentro de nossas próprias fronteiras, uma indigna, fria e injusta convivência entre a opulência e a degradação social, num profundo desrespeito à dignidade da pessoa humana!
É chegado o momento de revertermos esse quadro que nos cerca, que desfibra o povo e anula sua capacidade de reação! Busquemos o incentivo para a luta!
O momento exige de todos nós uma postura reflexiva e crítica. Que todos possam, hoje, ao verem o fruto de seus esforços brilharem à sua frente, ter vistas essenciais para aquilo que realmente importa, a partir de hoje, após a conclusão dessa etapa escolar: preparar-se com diligência, integridade, honestidade e dinamismo para a competição trabalhista que terão que, inevitavelmente, enfrentar!
Estamos totalmente solidários com aqueles que lamentam sinceramente a extinção do Curso Profissionalizante de Mecânica em nossa escola! Somos gratos a todos os que lutaram pela implantação deste que ora termina, e pela oportunidade ímpar que, juntamente com as outras turmas, nos foi oferecida. Em especial à nossa querida Diretora Rogéria.
Nossa gratidão estende-se também à Escola Federal de Engenharia de Itajubá, EFEI, pelas inúmeras aulas práticas e equipamentos colocados à nossa disposição e em especial aos professores e instrutores pela paciência com que nos atenderam! Aulas essas que contribuíram grandemente para nosso enriquecimento e formação profissional.
Agradecemos também a todos os demais professores, que, sempre atuantes e altamente capacitados, tornaram-se nossos grandes aliados na busca de aprendizado, técnica e cultura.
A Deus, pela Vida; a nossos pais, irmãos, esposas e esposos,  namoradas e namorados, nossa eterna gratidão pelo apoio e incentivo diante de nossas lutas diárias para que conseguíssemos chegar, triunfantes, até esse abençoado dia: discípulos e mestres!
A todos, um Natal cheio de Luz, e o Ano vindouro coroado de Paz!!

Dezembro de 1996 (!!!)
Atualíssimo!

Nota: publicado também aqui.
Graça Lacerda

2 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Atualíssimo, mesmo! Entra ano, sai ano... e o ano que entra é igual ao que sai.
- Mas a culpa não é do ano ou de como ele nos influencia, é nossa - de como influenciamos o ano. Pois se a vida nos constrói, também nós a construímos, com a bênção de Deus.
- Abraços, sôra... dê notícias. Estamos saudosos.

João Esteves disse...

Gostei muito do tom, da expressão, e da impressionante atualidade para um texto produzido no finalzinhio do século passado!
Um abraço.