[Rj, 2 mar. 1868/9?]
Minha querida C.
Recebi ontem duas cartas tuas, depois de dous dias de espera.
Calcula o prazer que tive, como as li, reli e beijei! A m.ª tristeza
converteu-se em súbita alegria. Eu estava tão aflito por ter notícias tuas que
saí do Diário à 1 hora para ir à casa
e com efeito encontrei as duas cartas, uma das quais devera ter vindo antes,
mas que, sem dúvida, por causa do correio foi demorada. Também ontem deves ter
recebido duas cartas minhas; uma delas, a que foi escrita no sábado, levei-a no
domingo às 8 horas ao correio, sem lembrar-me (perdoa-me!) que ao domingo a
barca sai às 6 horas da manhã. Às quatro horas levei a outra carta e ambas
devem ter seguido ontem na barca das duas horas da tarde. Deste modo, não fui
eu só quem sofreu com demora de cartas. Calculo a tua aflição pela minha, e
estou que será a última.
A Bela e a Fera...(da literatura...)
(...) tu não te pareces nada com as mulheres vulgares que
tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras; alma tão
boa e tão elevada, sensibilidade tão melindrosa, razão tão reta não são bens
que a natureza espalhasse às mãos cheias pelo teu sexo. Tu pertences ao pequeno
número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Como te não amaria
eu? Além disso tens para mim um dote que realça os mais: sofreste.
(...) A responsabilidade de fazer-te feliz é decerto
melindrosa; mas eu aceito-a com alegria, e estou que saberei desempenhar este
agradável encargo.
Olha, querida; também eu tenho pressentimento acerca da m.ª
felicidade; mas que é isto senão o justo receio de quem não foi ainda
completamente feliz?
Obrigado pela flor que me mandaste; dei-lhe dous beijos como
se fosse em ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um
pouco de tua alma.
Sábado é o dia de minha ida; faltam poucos dias e está tão
longe! Mas que fazer? A resignação é necessária para quem está à porta do
paraíso; não afrontemos o destino que é tão bom conosco.
(...) Depois...depois, querida, queimaremos o mundo, por que
só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e
das suas ambições estéreis. Estamos ambos neste caso; amamo-nos; e eu vivo e
morro por ti. Escreve-me e crê no coração do teu
MACHADINHO
A Carta, original:
Quer apreciar a leitura, na íntegra?
Então poderá ler mais, aqui, aqui e aqui e ter a oportunidade de ver também outras cartas de Machado de Assis (para sua amada e para seus amigos).
Boa companhia!
14 comentários:
Boa noite querida Graça, eu em divida contigo e voce me recebe com este carinho...Fiquei emocionada e com vergonha. Peço desculpas e prometo ser mais atenciosa, não por obrigação, mas por voce merecer meu carinho tambem. Passarei vez ou outra por aqui, me aguarde.
Quanto a carta, quanto amor, dedicação e desejo não é mesmo?
Tenho cartas de meu marido, enquanto namorado, guardadas até hoje. Poeminhas feito na hora do trabalho quando estava com saudades...Ai,ai...é o amor!
Adorei ler o trecho da carta e vou ler mais um pouco...Bjinhos Carinhosos e fique com DEUS! Obrigada de novo!!
Olá, querida Graça
Meu padrinho tem a coleção completa dele e eu desfruto, desde a adolescência, de todas as belezas e romantismo dele à sua amada...
Me inspiro muito nele e no seu jeito de ser...
DEUS te cubra de bênçãos e te faça feliz!!!
Bjs festivos de paz
Oi, Simone!
Não diga isso, de jeito nenhum, amiga!
A gente se fala, se comunica, e acontecem coisas do tipo...
eu mesma fui ao "Meu modo suave..." e o que eu vejo ali? Também estava em falta com você! Não era seguidora...rs
Portanto, linda, estamos quites!
Se pudesse, não iria faltar ao evento, mas como te disse, desejo toda sorte e sucesso pra ti, ok?
Me diga: a Monise, quem é?
Um beijão enorme pra você, felicidade, muitas vendas e o mais importante: o reconhecimento!!!
Você merece, escreve muito.
Olá, Rosélia!
Pela segunda vez (não consecutiva), estamos numa transmissão de pensamento que só mesmo o Criador de todas as coisas pode realizar e explicar!
Já pensando em retornar ao seu blog (ainda não fui ver a Chica e o Élys...) e não é que nossos comentários quase se fundem aqui?
Beijos, agraciadamente feliz!
PLOFT GIGANTE! EU AMO AS MISSIVAS...
Licença, mas eu tive que abocanhar vorazmente esta blogada e absorver o que há de melhor em blogs nesta vastidão internética.
Pelo aperitivo que deixou, imagino o prato principal.
Estou indo aqui, ali e acolá armazenar cultura.
*depois volto para outros plofts kkk
Gracinha, você é mesmo a pérola que faltava na blogosfera. Nunca se vá!
beijos querida
ler os Botões é sempre um degrau a mais para subir no aprendizado.
:):D
Cartas de amor escritas a mão... sobreviverão a qualquer tecnologia de comunicação mais avançada. Simplesmente porque nelas coexistem o aroma, o sabor e o tato de um corpo amado.
Beijos.
Saudades do tempo em que se escrevia cartas cheias de ternura, usando-se papel e caneta...
Gostei muito desta sua postagem.
Obrigado por sua visita. Beijos.
Boa noite amiga !!!!!
Sinto saudades das cartas que escrevi e que nunca mandei para o amado...grandes recordações senti aqui ao ler esse post...
bjssssssssssssssssssss
Miga, eu to lendo lá viu? Mas é coisa que naum acaba hein? rsrs...
Sempre aprendendo contigo!
Vc só acrescenta!
bacios
Lu, minha amiga!
Há muitas e muitas pérolas por aqui, querida! E como eu aprendo tb com elas...
Obrigada, sempre, pelos elogios, pelo carinho, pela presença.
Graciassss
Rodolfo, é verdade. Cartas escritas a mão trazem um perfume que às vezes nem foi colocado nelas...
Abraços, amigo meu!
Elys, obrigada, volte sempre!
Um abraço pra ti.
Severa, minha Severa!
Quanto tempo! Obrigada pelas visitas, e felicitações.
Vou vê-la em seu espaço, aguarde!!
Um beijo enorme pra vc, minha querida.
Lu, mais uma vez, obrigada!
Você tb acrescenta, e muito!!!
Bacios, cara mia!!
Postar um comentário