domingo, 12 de julho de 2009

"O menino que vendia palavras"




Alô, meus amigos, cheguei!!! HOJE minha bastante procuradora irá finalmente contar a minha história...

Gente, ..."não era uma vez", não!... essa é de verdade mesmo e o menininho é nada mais nada menos do que o nosso famoso escritor Ignácio de Loyola Brandão, a quem tive a honra de "quase" conhecer pessoalmente, quando fiz um curso de Biblioteca Pública, em Santo André... e ele não pôde comparecer e eu tb não!! Mas passemos à história: o menininho Ignácio nos revela também em seu livro do mesmo título desta seção, que seu tataravô José "em 1897 já escrevia poesias, morando nos cafundós de uma fazenda"...
Em vez de recorrer ao dicionário, como a maioria das crianças espertas e curiosas fazem, o menino desta história recorria a alguém muito esperto também e conhecedor do significado de muitas palavras! Esse alguém era seu pai, que afirmava que "quanto mais palavras você conhece e usa, mais fácil fica a vida, porque você vai saber conversar, explicar as coisas, orientar os outros, conquistar as pessoas, fazer melhor o trabalho, arranjar um aumento com o chefe, progredir na vida, entender todas as histórias que lê, convencer uma menina a te namorar".
O menino nos conta também que seu pai "era corajoso, lia livros grossos..." e trazia para ele sempre um livro novo, que ele "lia e ficava admirado como os contos de fadas estão cheios de maldades, crueldades e todo tipo de coisas ruins": é criança jogada em um rio, em O Pescador e o Anel (qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência??? Por favor me ajudem a descobrir...); em João, o Matador de Gigantes, é cabeça esfacelada, faca na barriga até mostrar as tripas, e mais: homens, mulheres e crianças atirados dentro de um caldeirão de água fervente para serem comidos "como um guisado". Teve também a madrasta terrível de Cinderela, a maçã envenenada de Branca (coitadinha!), e (ai, pobrezinhos, que vontade de protegê-los!) João e Maria nas garras daquela bruxa horrorosa, "encerrados na jaula"...
O menino Ignácio desafiava todos os seus colegas de escola a enfrentar o seu pai , que considerava imbatível e "o homem mais inteligente do bairro". Ah! nenhum de seus colegas tinha um pai assim.
Certo dia, um deles pediu-lhe que perguntasse a seu progenitor o que significava uma certa palavra. Foi aí, nesse exato momento que o menino teve uma brilhante e inocente (inocente?) ideia:
"- O que me dá?
- Como o que me dá?
- Acha que vou perguntar de graça?"
Duas tampinhas. Duas tampinhas de Niger, que era a marca da cerveja preta da época, duas tampinhas selaram o "negócio".
E, a cada palavra perguntada, o menino ia fazendo encher sua caixinha, e crescer sua posição no grupo: bolinha americana ("daquelas coloridas"), fotografia de navio de guerra, sorvete de picolé, chiclete, balas Toffee ("a mais cara"), figurinhas de futebol, rolimãs, "recortes com carros, barcos e aviões" (de revistas) e tudo que a nossa imaginação mostrar que criança coleciona.
Os meninos pesquisavam sobre as mais difíceis e mirabolantes palavras, só para desafiar:
" - Pergunte se o seu pai sabe esta!"
E o negócio seguia... absolvido? enfado? turvo? E depois, veio a complicação: hoste, justaposição, pertinaz, encouraçado... conforme a complicação, o preço subia: para saber o que significava "côngruo", o menino cobrou uma pipa, mas que nada, seu colega não aceitou pagar, deve estar até hoje sem saber...
Foi quando o pai começou a desconfiar: achou tudo muito estranho, crianças não são tão curiosas assim, o que era que estava havendo, afinal? E como o menino nunca conseguiu mesmo enganar seu pai por tanto tempo, acabou lhe revelando seu pequeno segredo do mundo dos "negócios", esse de vender palavras. O pai "riu muito" dele...
E fez uma nova proposta de "trabalho" para o menino:
" - Quando precisar saber uma palavra, procure nesses livros" e apontou para uma grande coleção com vinte livros, grossos e pesados.
(...)
- Esses mesmos. É uma enciclopédia. (...) Daqui para a frente é com você. Estou fora!"
O menino viajava "de letra em letra" pela sua enciclopédia Jackson: A,assaz...B,bilíngue...C,catáfora...D,disparate...E,epitélio...F (...),G (...), H( ...), I (...), J (...)...
e, num belo dia, "elas vieram aos borbotões, animadas, sonoras, gostosas de pronunciar"(...), e o menino passa, então, a ajudar a turma com os trabalhos escolares. Só que, bem, como nem tudo é festa e nem tudo são flores, tinha que ter um tal de Toninho Perneta nessa história!... O dito cujo invejava o "sabidão" da turma, preferia jogar "meia noite" por que "quem errava era castigado com uma cintada e ele adorava bater". (...); "era ele quem dominava a turma pela força" e numa noite veio com a história de "pergunte ao seu pai o que é crocidura". A crocidura iria pelo menos render um belo "cata-vento feito com capa dura de caderno"! Quando o menino responde ao valentão que crocidura era um bicho de trinta pernas, o nosso vilão "forte como um orangotango" se enche de fome de vingança! No dia seguinte, foi com tudo e empurrou nosso heroizinho num baita buracão desses que a prefeitura rasga para canos de esgoto ( e havia chovido!)... Não deu outra: sujou o uniforme e ainda por cima... apanhou da mãe!
Até que, de repente surge um fato novo e diferente nessa história, que podemos, a meu ver, classificar como "a moral da história". Trata-se de uma linda lição de vida, pelo menos para um garoto daquele tamanho, naquela idade.
Leiam o livro para saber...

(emtempo:ilustraçãodemariananewlands)

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