A crise dos botões de pérola
© UNESCO/Partick Lagès
No Paquistão Oriental (Bangladesh), vilas inteiras vivem apenas da manufatura de botões de madre-pérola.
"Quem melhor que a UNESCO pode chamar a atenção dos cientistas e técnicos para o fato (que eles tendem a subestimar com tanta freqüência) de que os propósitos da ciência não são apenas os de resolver problemas científicos, mas também de encontrar respostas aos problemas sociais?"
Problemas semelhantes – e outros ainda mais específicos – também confrontam a Bengala Oriental. Para solucioná-los será necessário um grau de imaginação e de colaboração internacional que não é menor. Até o mais intensivo cultivo de juta será incapaz de absorver a mão-de-obra ociosa ou assegurar a sobrevivência da população cuja densidade demográfica excede mil habitantes por quilômetro quadrado. De fato, por séculos as pessoas têm buscado uma fonte suplementar de renda na indústria do algodão, como a manufatura de roupas muçulmanas que fez Dacca famosa. Mas até essas formas rurais de artesanato são condicionados por circunstâncias únicas. Eles dependem de mercados internacionais não apenas como fonte de matéria-prima, mas também para as vendas e o escoamento dos produtos finais.
Para tomar um caso específico, na Bengala Oriental visitei recentemente um grande número de vilas de incrível pobreza na região de Langalbund, não tão distante de Dacca. Lá, cerca de 50 mil pessoas vivem apenas da manufatura de botões de madre-pérola. Botões desse tipo, de grande uso em camisetas e roupas íntimas de baixo custo, são produzidos em grande quantidade por ferramentas manuais que poderiam muito bem haver pertencido à alta Idade Média.
As matérias-prima necessitadas para a sua produção, tal como químicos, papelão e chapas de decoração usados para montar os botões no papelão, deixaram de vir do estrangeiro desde que o Paquistão se tornou independente. Seguindo uma retração mundial da demanda, a produção de botões de pérola em vilas caiu de 60 mil grosas por semana para menos de 50 mil por mês enquanto o preço pago aos artesãos das vilas caiu 75 %.
Esse é apenas um exemplo dos aflitivos problemas que confrontam o Paquistão hoje. Seria um erro, todavia, vê-los simplesmente como problemas econômicos. Sem dúvida a chave para o dilema está antes de tudo nos técnicos.
(UNESCO.com / Artigo 3 - Courrier,2008,nº5 - http://typo 38.unesco.org))
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